08
de julho de 2012 | N° 17124
PAULO
SANT’ANA
O micróbio do
ciúme
Li
William Shakespeare, principalmente quando criou o seu mais célebre personagem:
Otelo. Otelo foi o maior ciumento da literatura.
E
aqui nesta coluna já desenvolvi várias teses sobre o ciúme, principalmente
aquela de que o ciúme doentio não se origina no medo de perder a mulher amada,
e sim do medo de perdê-la “para outro”.
Já
vi centenas de tipos de ciúme. Mas ultimamente estou enfronhado em decifrar o
ciúme constante de um verso da música Jura-me. Narra o compositor que “Cuando estoy cerca de ti, tu estás contenta/ no
quisiera que de nadie te acordaras/ tengo celos (ciúme) hasta del pensamiento/
que pueda recordarte a otra persona más”.
Quer
dizer, o personagem fica desconfiado por sua amada estar contente em sua
companhia e tem ciúme até do pensamento dela, que pode estar voltado para a
recordação de outra pessoa que porventura possa ela no passado ter amado.
É um
ciúme descomunal. O ciúme, portanto, é desconfiado de tudo.
Existe
no mundo um tipo de ciúme muito frequente: o ciúme de um homem contra um amigo.
Ou seja, ter ciúme de um amigo seu que se dedica mais a um terceiro amigo do
que a você.
Ciúme
entre homens, em suma. Ou entre mulheres, melhor dizer ciúme entre amigos, que
vulgarmente é chamado de ciumeira.
Por
sinal, o ciúme se difere da inveja porque, na inveja, não se suporta o êxito da
pessoa a quem se inveja, já no ciúme não se suporta o êxito que uma terceira
pessoa possa ter junto a nossa amada ou junto a uma pessoa que estimamos (caso
do ciúme entre amigos).
Como
se vê, a única similitude que existe entre o ciúme e a inveja é que em ambos
não suportamos o sucesso de alguém, seja de quem admiramos, seja de quem (ou
com quem) amamos.
É
complicado, mas é assim mesmo.
O pior
e mais absurdo tipo de ciúme é aquele do sujeito que ama uma mulher casada e
tem ciúme do marido dela.
A
esse respeito, contei aqui certa vez a história de um famoso advogado
porto-alegrense, hoje em Brasília, que era amante de uma mulher casada.
Ele
se encontrava com ela todas as segundas-feiras e sempre cobrava dela o
relacionamento com o marido. Ela respondia que não amava seu marido.
Um
dia o nosso advogado foi até o Bric da Redenção no domingo e viu a sua amada
mulher casada passeando de mãos dadas com o marido.
No
dia seguinte, encontrou-se como sempre com ela e cobrou dela com veemência:
“Então, de mãos dadas com o marido na Redenção? Está tudo acabado entre nós”.
E a
mulher estupefata: “Mas, Fulano, ele é meu marido, tu sabes que eu durmo com
ele, faço sexo com ele”.
E o
advogado loucamente ciumento: “Sexo entre vocês dois eu permito, mas mãos dadas
na Redenção, aí tem romance!”.
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