sábado, 7 de julho de 2012



08 de julho de 2012 | N° 17124
PAULO SANT’ANA

O micróbio do ciúme

Li William Shakespeare, principalmente quando criou o seu mais célebre personagem: Otelo. Otelo foi o maior ciumento da literatura.

E aqui nesta coluna já desenvolvi várias teses sobre o ciúme, principalmente aquela de que o ciúme doentio não se origina no medo de perder a mulher amada, e sim do medo de perdê-la “para outro”.

Já vi centenas de tipos de ciúme. Mas ultimamente estou enfronhado em decifrar o ciúme constante de um verso da música Jura-me. Narra o compositor que “Cuando estoy cerca de ti, tu estás contenta/ no quisiera que de nadie te acordaras/ tengo celos (ciúme) hasta del pensamiento/ que pueda recordarte a otra persona más”.

Quer dizer, o personagem fica desconfiado por sua amada estar contente em sua companhia e tem ciúme até do pensamento dela, que pode estar voltado para a recordação de outra pessoa que porventura possa ela no passado ter amado.

É um ciúme descomunal. O ciúme, portanto, é desconfiado de tudo.

Existe no mundo um tipo de ciúme muito frequente: o ciúme de um homem contra um amigo. Ou seja, ter ciúme de um amigo seu que se dedica mais a um terceiro amigo do que a você.

Ciúme entre homens, em suma. Ou entre mulheres, melhor dizer ciúme entre amigos, que vulgarmente é chamado de ciumeira.

Por sinal, o ciúme se difere da inveja porque, na inveja, não se suporta o êxito da pessoa a quem se inveja, já no ciúme não se suporta o êxito que uma terceira pessoa possa ter junto a nossa amada ou junto a uma pessoa que estimamos (caso do ciúme entre amigos).

Como se vê, a única similitude que existe entre o ciúme e a inveja é que em ambos não suportamos o sucesso de alguém, seja de quem admiramos, seja de quem (ou com quem) amamos.

É complicado, mas é assim mesmo.

O pior e mais absurdo tipo de ciúme é aquele do sujeito que ama uma mulher casada e tem ciúme do marido dela.

A esse respeito, contei aqui certa vez a história de um famoso advogado porto-alegrense, hoje em Brasília, que era amante de uma mulher casada.

Ele se encontrava com ela todas as segundas-feiras e sempre cobrava dela o relacionamento com o marido. Ela respondia que não amava seu marido.

Um dia o nosso advogado foi até o Bric da Redenção no domingo e viu a sua amada mulher casada passeando de mãos dadas com o marido.

No dia seguinte, encontrou-se como sempre com ela e cobrou dela com veemência: “Então, de mãos dadas com o marido na Redenção? Está tudo acabado entre nós”.

E a mulher estupefata: “Mas, Fulano, ele é meu marido, tu sabes que eu durmo com ele, faço sexo com ele”.

E o advogado loucamente ciumento: “Sexo entre vocês dois eu permito, mas mãos dadas na Redenção, aí tem romance!”.

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