ELIANE
CANTANHÊDE
Quente e frio
BRASÍLIA - Há uma corrida
desenfreada por concursos e vagas públicas. Simultaneamente, uma onda de greves
e protestos de servidores. Afinal, é bom ou não é?
Direito é o curso mais procurado
do país, mas não significa uma vocação coletiva, ou que todos os vestibulandos
queiram ser advogados, juízes, delegados. A maioria quer usar a faculdade como
"cursinho" para fazer concurso -não importa o setor.
Essa corrida ocorre pelo aumento
de vagas no serviço público na era Lula, com um festival de concursos em todas
as áreas, todos os Poderes, todos os Estados. E, claro, é estimulada pela
estabilidade, pela aposentadoria, pela ascensão funcional. É botar o pé dentro
e subir degraus.
É uma contradição: se tudo parece
tão bacana e a turma estuda tanto para entrar, é preciso explicar as greves em
mais de 20 setores da administração e os 10 mil servidores que pararam o
trânsito em Brasília na última quarta, pichando um ministério, ameaçando
invadir outro.
Talvez seja tão bom que os
funcionários se sentem fortes o suficiente para confrontar Dilma Rousseff e
exigir o impossível: R$ 92 bilhões de aumentos, 50% a mais na folha de
pagamentos. Nenhum patrão do mundo faria isso. Muito menos um patrão, ou
patroa, que apenas gerencia o dinheiro dos outros -os contribuintes.
Dilma argumenta com a crise
internacional e joga duro, mas os grevistas também. Ela só cedeu para os
professores das universidades, focando o top da carreira (doutores com
dedicação exclusiva) e dando até 45% de reajuste em três anos. A categoria
rejeitou, porque só a "elite" seria beneficiada. E os dois lados têm
razão: nem o salário dos docentes é justo nem há dinheiro para tudo.
Que o impasse entre governo e
servidores sirva para que essa obsessão "concurseira" recue para a
normalidade. Para isso, porém, Dilma precisa garantir crescimento e
investimentos na economia. O setor público está quente, a indústria, esfriando.
elianec@uol.com.br
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