HÉLIO
SCHWARTSMAN
Fabulações do mensalão
SÃO PAULO - Para os petistas, o
julgamento do mensalão representa um golpe da direita contra uma administração
popular que, pela primeira vez na história deste país, promoveu mudanças de
verdade.
Para seus adversários, se há uma
revolução em curso, ela virá com a condenação dos principais réus, que romperá
o ciclo da impunidade de políticos e lançará o Brasil numa nova era de
moralidade administrativa.
Ambas as versões, em especial a
primeira, não passam de fabulações com fins políticos. Urdi-las faz parte do
jogo democrático, que não bane a tentativa de influenciar magistrados e
eleitores, mas reconhecer isso não implica que devamos acreditar nelas.
Se há algo notável e até certo
ponto inesperado nessa história é que as instituições estão funcionando. A PF,
subordinada a um ministro petista, investigou o caso, colheu provas e as levou
ao Ministério Público.
O procurador-geral, nomeado pelo
próprio Lula, viu uma série de crimes e apresentou a denúncia. E o STF, de
cujos 11 integrantes originais 8 chegaram ao cargo por indicação de presidentes
petistas, vem, após análise individualizada de cada caso, condenando a maior
parte dos acusados. Se, diante desse histórico, o PT ainda insiste na tese do
golpe, em vez de acusar a direita, deveria procurar um sabotador em suas
próprias fileiras.
Isso significa que o Brasil
mudou, como quer o devaneio tucano? É claro que não. As instituições
funcionaram aqui porque a situação era atípica, explosiva demais para ser
ignorada. Só que boas instituições funcionam sempre, independentemente de quem
sejam os envolvidos. E, nesse quesito, nossa Justiça é muito ruim, como o prova
o caso do mensalão mineiro, cronologicamente anterior ao do PT, mas ainda não
julgado.
Nesse contexto, os petistas
poderiam queixar-se de estar pagando por ter agido como todos os outros. Pode
ser, mas o mundo é muitas vezes cruel e, por definição, só podemos punir os que
se deixam apanhar.
helio@uol.com.br
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