09
de outubro de 2012 | N° 17217
LUÍS
AUGUSTO FISCHER
Seis anos
Nasci
num janeiro, mais de meio século atrás; o mês de aniversário marcou para sempre
minha vida, como seria de esperar, mas também como não seria de esperar tão
imediatamente. O ano escolar, para mim, coincide com o ano de vida, na prática;
eu quase sempre fui o mais jovem da turma, composta, em sua maioria, por
colegas nascidos ao longo do ano anterior, de março em diante. (E nunca tive
festa de aniversário cheia dos colegas de aula, porque todos estávamos de férias,
dispersos.)
Aos
seis anos, entrei para o Primário e lembro claramente de muita coisa. O cheiro
da pasta de couro; o aspecto promissor dos lápis apontados no estojo de
madeira, de tampa frequentemente emperrada; os cadernos encapados pela mãe, com
capricho, que davam tanto gosto de começar a escrever.
Os
ditados. Os trabalhos manuais. As primeiras pesquisas. Não recordo muitos dos
colegas, mas sim da professora; e tenho comigo, em algum canto, o boletim de
notas, preenchido com aquela letra antiga de normalista, parelha e firme, com
as várias notas a cada mês, tudo ladeado pela assinatura do pai.
Meu
filho faz seis anos, hoje, exatamente. Se prepara para ingressar no primeiro
ano, novinho em folha. Não terá boletim, mas algo equivalente para notificar os
pais do desempenho dele. Seus apetrechos escolares incluem caderno, lápis e
pasta, diferentes dos meus, mas a seu modo iguais, como instrumentos de aquisição
e construção do conhecimento.
Ciências,
artes e letras se abrem diante dele, que anda numa fase de grande interesse por
animais, entre exóticos e nativos, domésticos e selvagens, com várias
especificações que ele faz questão de saber.
Escrevo
essa comparação trivial por quê? Não sei direito. Venho com ela na cabeça e no
coração faz já uns dias, girando em torno do aniversário dele. (Meu saudoso irmão,
Sérgio Prego, teria feito 48 anos dia 5 passado.
Seu
filho, meu afilhado, o queridíssimo Alfredo, completará 7 anos daqui a um mês e
pouco.) Minha resposta tem a ver com a memória, justamente: me dou conta de que
o Benjamim já retém na lembrança, de agora para sempre, os lances da vida, como
eu trago as minhas cá comigo. Essa sucessão me mobiliza de um jeito profundo, a
que espero fazer jus.
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