16
de outubro de 2012 | N° 17224
DAVID
COIMBRA
Aprenda chinês em seis
semanas
Houve
um homem que desenvolveu um método para aprender qualquer língua, eu disse
QUALQUER LÍNGUA, mesmo as mais inóspitas, como o russo, o chinês e o português,
qualquer uma em apenas mês e meio. O sistema funcionava à perfeição. Esse homem
tornou-se fluente em praticamente todas as línguas europeias, mais grego,
copta, latim e outras tantas.
Era
alemão e chamava-se Heinrich Schliemann. Já revelarei seu método, e você poderá
aplicá-lo também, economizando milhares de reais em cursos de línguas
estrangeiras e encantando os departamentos de RH.
Você
precisa levar esse Schliemann a sério. Ele foi um personagem importante da
trajetória humana – foi quem descobriu Troia, cidade que, havia três mil anos,
o mundo acreditava só ter existido na imaginação do cego Homero. Acontece que,
quando era pequerrucho, Schliemann ouviu da boca veneranda do pai a leitura da
Ilíada e da Odisseia. Ficou fascinado com as aventuras e as desventuras de
Aquiles e Ulisses, e prometeu para si mesmo, cerrando o punho e fitando o
horizonte:
– Eu
vou descobrir Troia!
Para
tanto, ele tinha de cumprir alguns requisitos, sobretudo dois:
1.
Saber profundamente várias línguas vivas e mortas a fim de interpretar os
documentos e inscrições que encontrasse.
2.
Ficar rico a fim de financiar suas expedições.
O
item 2 é fácil de ser atingido. Qualquer um fica rico, desde que seja um
comerciante habilidoso. Schliemann era. Assim, ao atingir a maturidade, viu-se
convertido em nababo, com recursos suficientes para investir num sonho.
O
item 1 é mais complicado. Aprender uma língua desconhecida exige tempo,
concentração, disposição e paciência para ficar repetindo the book is on the
table. Só que Schliemann inventou aquele método que agora vou ensinar a você.
Preste atenção: consistia, basicamente, em ler em voz alta, mas em voz BEM
alta, um texto escrito na língua que ele pretendia assimilar. Para aprimorar o
aprendizado, Schliemann contratava alguém como ouvinte.
A
pessoa não tinha, necessariamente, de saber um yes, se a língua em questão
fosse a de Shakespeare e Megan Fox. Bastava sentar-se, olhar para ele e ouvir
como se entendesse o que estava sendo lido. Nessas sessões, Schliemann falava
tão alto e por tantas horas, que os vizinhos se queixavam do barulho, e algumas
vezes ele teve de se mudar, provando ser balela esse negócio de “os incomodados
que se retirem”.
O
fato é que o método Schliemann dava bom resultado. Em seis semanas, ele
absorvia qualquer língua, propiciando que ele descobrisse Troia, se consagrasse
como um dos três maiores arqueólogos da História e conquistasse uma bela e
jovem grega, com quem se casou e a quem enfeitou com as joias que julgava terem
adornado o corpo perfeito da espartana Helena.
Portanto,
se você quiser aprender japonês, por exemplo, já sabe como fazer.
Você
acha que vai conseguir?
Eu,
aqui, acho que não. Por quê? Porque você não é Schliemann, que era um gênio.
Mesmo assim, você pode aprender japonês, se frequentar um curso adequado e se
esforçar. Com empenho, as pessoas aprendem as coisas. Até uma atividade que
depende fundamentalmente do rendimento físico, como o futebol. Já vi muitos
jogadores aprenderem a jogar. É o caso do atacante Leandro, do Grêmio.
O
Lauro Quadros disse que ele se atrapalha com as pernas, e é verdade. Porque
Leandro é um afoito, suas pernas agem antes do comando do cérebro. Mas Leandro
pode aprender. Tem velocidade, tem força nova, que ganhou com treino e
vitamina, e, o principal, tem vontade. Talvez não seja um virtuose, como um
Romário, que nasceu com o futebol correndo nas artérias e inundando os músculos
a cada batimento do coração, mas pode ser grande. Um homem pode aprender a ser
grande.
O
melhor
Talvez
o exemplo mais luminoso de jogador que aprendeu a ser jogador e que venceu pelo
esforço, mais do que pelo talento, seja o de Valdomiro Vaz Franco. Quando
começou no Inter, Valdomiro era odiado pela torcida. Foi vaiado ao marcar um
gol, algo que só se repetiu com Ronaldinho, no Grêmio, por motivos bem
diversos.
Ao sair
do Inter, Valdomiro foi aclamado como um dos jogadores mais importantes da
história do clube. Para mim, o mais importante. Como conseguiu essa façanha?
Aprendendo. Valdomiro aprendeu a ser bom.
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