23
de outubro de 2012 | N° 17231
DAVID
COIMBRA
Uma morte horrível
Vou
narrar agora como se deu a terrível morte de um general da Antiguidade.
Depois
de ter seu exército desbaratado pelo inimigo, ele fugiu a pé. Correu o dia
inteiro e, à noite, conseguiu abrigo no acampamento de uma tribo aliada. O
chefe da tribo o acolheu e pediu para sua esposa que o alimentasse. A mulher
levou-o para a tenda do casal e ofereceu-lhe uma jarra de leite.
O
homem bebeu com sofreguidão e, em seguida, exausto que estava, cobriu-se com
uma manta e adormeceu. Então, a mulher do chefe tomou de um martelo e uma
estaca de ferro e esgueirou-se até onde repousava o hóspede. Aproveitando que o
infeliz dormia profundamente, ela apoiou a ponta do grande prego em sua fronte.
Com o outro braço ergueu o martelo bem alto e, num único e vigoroso movimento,
golpeou com o martelo.
Assim
foi assassinado o general Sisara, inimigo dos hebreus. A mulher que o recebeu e
traiu chamava-se Jael. Ela entregou o corpo a Barac, general dos israelitas, a
quem o atual presidente dos Estados Unidos deve seu nome, que, aliás, significa
“relâmpago”.
O
Relâmpago Barac havia sido nomeado general pela famosa juíza Débora, que, aliás,
significa “abelha”, saibam-no as Déboras de hoje, que são tantas. Toda essa
história sangrenta é relatada em texto poderoso pelo livro dos Juízes, no Velho
Testamento, que registra o cântico de Débora festejando o assassínio de Sisara:
“Bendita
seja entre as mulheres Jael, mulher de Héber, o Quenita!
Entre
as mulheres da tenda seja bendita!
Ao
que pediu água ofereceu leite. Serviu nata em taça nobre.
Com
uma das mãos segurou o prego, e com a outra o martelo de operário,
E
esmagou-lhe a fonte e a transpassou.
Aos
seus pés ele vergou, tombou e, abatido, ali ficou”.
Nunca
deixo de me admirar com a crueza das histórias do Velho Testamento. O curioso é
que, nessas guerras de conquista de Canaã, os hebreus são implacáveis com seus
próprios parentes. A maioria dos povos que lutam por aquela terra sobre a qual
se luta até hoje, terra que deveria verter leite e mel, mas que de onde verte
sangue, pois a maioria daqueles povos descende do mesmo patriarca: Abraão. Não
apenas os árabes, filhos de Ismael, primeiro filho de Abraão, mas outros velhos
inimigos de Israel.
Os
moabitas foram gerados por Moab, filho que Lot teve com sua própria filha
depois de fugir da destruição de Sodoma e Gomorra. Os ferozes amalecidas começaram
sua jornada sanguinária com Amalec, descendente de Esaú, o irmão gêmeo de Jacó.
E
assim por diante. Bastaram alguns poucos séculos para que povos aparentados se
transformassem em acerbos rivais. É assim que é: as guerras fratricidas são as
mais atrozes. Donde, os invencíveis ressentimentos originados por uma eleição
em clube de futebol. Se os adversários pudessem, cravariam estacas nas cabeças
uns dos outros. E, depois, cantariam a façanha em versos, como a Juíza Débora,
a abelhinha, cantou um dia no deserto quente da Cisjordânia.
Vitorinho
no Country
O
Vitorinho Gheno é grande arquiteto, desenhista, pintor e golfista, além de ser
filho do Vitorio Gheno, o que não é pouca coisa. Nesta terça, o Vitorinho reúne
algumas dessas suas paixões ao expor suas aquarelas e guaches no Salão
Principal do Country Club a partir das 20h. Veja um dos trabalhos, justamente
uma paisagem contemplada pelos golfistas, e passe lá.
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