28
de outubro de 2012 | N° 17236
QUASE
PERFEITO | Fabrício Carpinejar
A guilhotina é o ioiô da
tragédia
“Boa
tarde! Há 4 meses me envolvi sexualmente com um homem comprometido, desde então
tem sido um relacionamento ioiô, sempre peço um tempo pra ele quando vejo que
meus sentimentos estão me dominando. Não me abro com ninguém a respeito disso.
Agravantes: é meu chefe, 30 anos mais velho, meu primeiro envolvimento sexual
foi com ele, trabalho com sua namorada. Grande abraço. Yasmin”
Querida
Yasmin,
Quem
dera fosse uma relação ioiô, seria um elogio, é um caso guilhotina, feita para
sua cabeça rolar. Juntou todas as adversidades numa só pessoa, todas as
proibições num único tirano.
Mistura
a cena profissional com a amorosa, cria situações de chantagem (da parte dele,
de sua parte), não se abre porque não tem ninguém como expor os personagens da
novela, ainda convive com a namorada dele e vê o romance dos dois se desenrolar
na sua frente.
Sua
trama produz ciúme, inveja, prepotência e humilhação, o lado pantanoso do amor.
Não há sentimentos nobres, destinados à escolha e à independência.
Como
vai crescer numa relação dessas?
O
inferno nem mais a cumprimenta: procurou alguém que pudesse ser seu pai (trinta
anos mais velho), seu chefe, seu professor, anulando por completo seu
discernimento crítico. É uma filha, uma escrava, uma aluna da tortura.
São
tantos complexos que somente comprando um divã parcelado em suaves prestações.
Sofre
um excesso de dependência que leva à paralisia. Você pede um tempo para não
pressionar de propósito. Estabelece um falso limite, pois prevê o mais drástico
dos desfechos.
O
que deve ocorrer é perder o emprego, acabar sozinha e reduzir a pó seu grupo de
amigos, já que seus colegas suspeitam de suas vantagens e benefícios pela
proximidade com o patrão. Ainda que não fale nada do que vem ocorrendo, é o
centro da mais famosa fofoca no expediente. Ao ganhar uma promoção, mesmo que
mereça, será alvo de piadas e do descrédito. Nunca saberá se a namorada do
amante descobriu o triângulo amoroso e puxa conversa por hipocrisia ou amizade.
O
carimbo de sua carteira profissional é uma lágrima azul. Sua alegria é ser
infeliz. Seu projeto de vida é acumular culpa. Nem percebeu que não deseja o
melhor para sua vida, mas o pior.
Optou
por ser leal a um ditador, apagar sua personalidade, frustrar planos de
ascensão na carreira e no plano emocional.
Quem
você deseja superar com tamanha tristeza? Sua mãe?
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