31
de outubro de 2012 | N° 17239
JOSÉ
PEDRO GOULART
Orgasmo no vácuo
Sasha
Grey é linda, culta, dada a ter ideias; e escolheu o caminho asséptico das
sombras. Você leu o que eu escrevi? Vou repetir: caminho asséptico das sombras.
Sombra porque fazer sexo de todas as formas explícitas diante das câmeras pode
muito bem ser tratado como algo obscuro, e asséptico, porque a indústria
americana de filmes pornográficos é cheia de regras sobre conduta e saúde dos
participantes.
Pois
bem, recentemente o imponente The Guardian fez uma matéria com Sasha: ela conta
que se aposentou do sexo atuado e passou para a música cantada. Porém, encontrou
uma cena bem parecida com a da pornografia, algo como terra de ninguém, um
verdadeiro oeste selvagem, cujos bandidos são os orçamentos micados e,
principalmente, a pirataria. De modo que a linda Sasha não sabe se dança ou
segura a criança.
Pornografia
e música, protagonistas da internet, duas poderosas indústrias se esvaindo à mercê
do descontrole total e absoluto. Na web, tudo jaz, cinema, literatura,
jornalismo. Por mais que a indústria do entretenimento esperneie, tente criar
barreiras, o fato é que cada vez mais parece entregue, nocauteada, um bicho
sangrando em cima de um formigueiro.
Bom,
mas isso nós, as formigas, já sabíamos, não precisávamos da Sasha para nos
contar. O que a gente quer aqui é fazer um exercício da futurologia. Aonde isso
vai dar? No caso dos filmes XXX, o pessoal está tendo que largar o bastão (desculpe).
Há tanta pornografia disponível na internet que a gente ia precisar de umas 50
adolescências só para cruzar a fase anal.
Então,
chegamos no grande busilis, ei-lo: ao que parece, excetuando eventuais
documentos ainda não revelados pelo Wikileaks, tudo, absolutamente tudo, está catalogado,
escaneado e disponível. Há não muitos anos (ok, algumas centenas), um sujeito
podia olhar para o mar do outro lado do mundo e “imaginar” o que será que havia
do lado de cá – se a Terra acabava numa valeta, essas coisas.
Ou
algo mais prosaico: se ia chover, se ia ter trânsito na ida para praia, ou se
aquilo que gente via numa revista sueca era realmente possível. É um problema
um mundo conhecido, sem mistérios, a vida civilizada necessita de ilusão. Imaginar
descobertas é ter esperança num sentido.
E
ainda por cima, sabemos o tempo inteiro o que cada um está fazendo, onde está,
com quem; ou pior, pensando. Há um quê de pornografia nisso, sendo a
pornografia um jorro no vazio, orgasmo no vácuo. Ao que parece, essas partículas
bilionésimas de seres, todos os dias procurando e emitindo dados e contra-dados,
funcionam como um grande reator a produzir energia para... nada.
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