10 de outubro de 2012 |
N° 17218
EDITORIAIS ZH
CONDENAÇÃO DE DIRCEU
Em julgamento histórico, o
Supremo Tribunal Federal condenou ontem o mais ilustre réu do processo
conhecido por mensalão, o ex-ministro José Dirceu, pelo crime de corrupção
ativa, considerando-o mentor e partícipe do esquema de compra de apoio político
para o governo no Congresso Nacional. Também foram condenadas outras lideranças
do Partido dos Trabalhadores.
Embora os ministros ainda não
tenham concluído a votação, a decisão da maioria não apenas coincide com o
clamor da opinião pública como também aponta perspectivas de menos tolerância
da Justiça e da sociedade com as deformações da atividade pública.
É inegável que o julgamento do
ex-poderoso chefe da Casa Civil era o mais esperado momento da apreciação
pública da ação penal 470, que trata do envolvimento de políticos com grupos
articulados no sentido de corromper parlamentares da base de apoio ao governo
anterior. A expectativa com o destino de José Dirceu no processo se justificava
plenamente por vários fatores.
O mais influente de todos os réus
tinha, no início do governo Lula, em 2003, poderes tão amplos, que chegou a ser
apresentado como um primeiro-ministro informal. Foi assim que coube a Dirceu,
pela sua capacidade de transitar pelos labirintos das articulações políticas, a
tarefa de construir a base parlamentar de sustentação ao governo.
Era na Casa Civil que ganhavam
forma, pelo talento de seu ocupante e pela tradição das atribuições da pasta,
as conexões entre governo e Congresso. Consagrou-se que Dirceu montou as bases
do governo, com a anuência do presidente, e assim ganhou reconhecimento dentro
e fora do Planalto.
Tanto poder nas mãos de uma única
pessoa foi levado em conta pelo STF para apontar que o ex-ministro, pelo
alcance de suas prerrogativas e pelos indícios juntados aos autos, chefiava o
esquema do mensalão.
Prevaleceu, para a maioria dos
ministros, o entendimento de que os operadores do mensalão se submetiam ao
comando da Casa Civil para negociar empréstimos bancários fraudados,
misturá-los a recursos públicos, montar um caixa de compra de apoio e corromper
os parlamentares que aceitavam dinheiro em troca da submissão aos interesses do
governo.
Por coerência com a identificação
dos corrompidos, os ministros que condenaram Dirceu, José Genoino,
ex-presidente do PT, e Delúbio Soares, ex-tesoureiro do partido, apontaram
também os corruptores. Foram reconhecidos pelo Supremo os delitos cometidos
pelo chamado núcleo político do esquema. Líderes que até 2005 eram considerados
incontestáveis por seus pares veem suas trajetórias interrompidas por um
julgamento histórico.
Como ocorreu até aqui diante de
resoluções anteriores referentes à ação 470, também o desfecho do processo
contra o ex-chefe da Casa Civil deve ser visto com naturalidade, para que não
se confundam eventuais sentenças políticas, contra ou a favor dos réus, com as
decisões fundamentadas em convicções de última instância pela mais alta corte
do país.
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