13
de outubro de 2012 | N° 17221
NILSON SOUZA
Psssiu!
Entre
as manias que tenho, uma é baixar o som da televisão nos intervalos comerciais.
Tenho hipersensibilidade a ruídos e me sinto agredido com as propagandas que
gritam – quase todas. Não entendo por que os autores dos reclames insistem no
som alto. Minha tese é a mesma que explica a perda de equilíbrio emocional do
debatedor durante uma discussão: grita-se quando faltam argumentos. Na
propaganda, o barulho quase sempre é utilizado para encobrir a mediocridade.
E
não estou sozinho nesta visão – ou seria audição? As reclamações do público
foram tantas, que o Ministério das Comunicações decidiu regulamentar o som dos
intervalos comerciais, por meio de uma portaria que estabelece aumento de, no
máximo, dois decibéis na hora da mensagem publicitária. Não sei se já está
valendo, pois as emissoras ganharam um longo prazo para executar a medida. Além
disso, continuo pressionando aquele bendito botãozinho do silêncio nos
intervalos dos meus programas favoritos. Bela invenção, o controle remoto.
Pena
que não funcione para conter o barulho alheio, especialmente o som automotivo
que alguns motoristas colocam em seus veículos. É outra coisa que me
desconcerta: o que leva um sujeito a instalar um verdadeiro canhão de
alto-falantes na traseira do seu automóvel e sair pela rua a perturbar o
sossego alheio? Sei, eles não são os únicos.
O
som alto é uma das principais causas de brigas entre vizinhos. Até igrejas têm
sido alvo de reclamações e de denúncias por causa dos ruídos excessivos,
especialmente aquelas que utilizam instrumentos musicais e cantorias para se
fazerem ouvir pelas divindades. Os incomodados argumentam que Deus não é surdo,
mas quem os ouve?
E
isso ocorre em todo o mundo, tanto que a Organização Mundial da Saúde colocou a
poluição sonora entre as três prioridades ecológicas para a próxima década. De
acordo com especialistas, a audição é o único sentido humano permanentemente
ligado. Mesmo durante o sono, continuamos ouvindo. Por isso, o barulho virou
questão de saúde pública. A tecnologia só agravou o problema. Os fones de
ouvido até evitam o compartilhamento indesejado, mas os jovens costumam manter o
volume de seus aparelhos tão elevado, que acabam ficando com a audição
danificada.
Posso
parecer ranzinza nesta minha pregação por silêncio, mas a verdade é que os
aparelhos de som, os carros tunados e os alto-falantes (ou alto-gritantes)
conferiram poder demasiado aos indivíduos. Qualquer pessoa, seja apreciador de
rock ou pagode, pode infernizar a vida do próximo, especialmente quando este
próximo tem que se manter nas proximidades.
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