19
de outubro de 2012 | N° 17227
DAVID
COIMBRA
Discussão
idiota
Sinto-me
idiota cada vez que entro numa discussão. Eu ali, batendo boca com alguém,
terçando argumentos, me defendendo e atacando, e os outros em volta, assistindo
e, com toda a razão, achando aquilo uma imbecilidade. Aconteceu dia desses.
Estava
numa mesa de bar e, de repente, eu e um amigo começamos a discutir sobre uma
bobagem qualquer. Havia mais quatro conosco. Eles observavam em silêncio
superior. É óbvio que pensavam: que estupidez, esses dois. Eu mesmo, enquanto
tentava explicar meu ponto de vista, me perguntava: mas como é que fui parar
aqui???
Você
entra numa discussão e não tem mais como sair. É um pântano com areia movediça:
quanto mais você se mexe, mais afunda.
Curioso
é que, apesar de nunca ter gostado de discussões, passo a vida me metendo
nelas. Surge um assunto na mesa, algo em voga, sei lá, digamos... as quotas
raciais em universidades. Em geral, eu já havia pensando sobre aquilo. Então,
digo: “É uma medida paliativa. Se houvesse educação pública primária de
qualidade, os alunos pobres, negros, pardos e índios chegariam à porta da
universidade em condições iguais de disputar com os ricos e brancos”.
Aí
vem alguém e argumenta: “Mas isso demoraria muito para corrigir as injustiças
históricas”. E eu rebato: “Estamos esperando há 400 anos, podemos fazer as
coisas certas em 10, sem classificações raciais perigosas”. Neste momento, o
outro pessoaliza: “Você diz isso porque é branco...” Pronto. O tom vai começar
a se elevar. Em poucos minutos, haverá gente chateada.
Era
para ser uma roda de amigos descontraindo, e estão todos constrangidos. Por
quê? Por causa das quotas nas universidades. Que me importam as quotas em
universidades? Que diferença faz ter ou não razão sobre qualquer maldito tema
público?
Uma
pessoa pode ser muito correta política e ideologicamente e ser desagradável
socialmente. Olhe aquele cara ali: ele é competente, bem-sucedido, inteligente,
tem o coldre carregado de argumentos ferinos, construiu todo um edifício de
boas ideias sobre a sociedade, mas quero distância dele. Por quê? Simplesmente
porque ele é aborrecido. De que adianta ter estatura moral, intelectual e
profissional, se você não tem estatura espiritual?
Imagine
um concurso para amigo. Responda as questões: você é de esquerda ou de direita?
Lula ou FH? Lewandowski ou Barbosa? Gremista ou colorado? Contra ou a favor do
tatu-bola? Vegetariano ou onívoro? Abstêmio ou bom bebedor?
É
assim que você escolhe suas companhias? Não, claro que não. Então, vamos parar
agora com essa discussão.
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