sexta-feira, 19 de outubro de 2012



19 de outubro de 2012 | N° 17227
DAVID COIMBRA

Discussão idiota

Sinto-me idiota cada vez que entro numa discussão. Eu ali, batendo boca com alguém, terçando argumentos, me defendendo e atacando, e os outros em volta, assistindo e, com toda a razão, achando aquilo uma imbecilidade. Aconteceu dia desses.

Estava numa mesa de bar e, de repente, eu e um amigo começamos a discutir sobre uma bobagem qualquer. Havia mais quatro conosco. Eles observavam em silêncio superior. É óbvio que pensavam: que estupidez, esses dois. Eu mesmo, enquanto tentava explicar meu ponto de vista, me perguntava: mas como é que fui parar aqui???

Você entra numa discussão e não tem mais como sair. É um pântano com areia movediça: quanto mais você se mexe, mais afunda.

Curioso é que, apesar de nunca ter gostado de discussões, passo a vida me metendo nelas. Surge um assunto na mesa, algo em voga, sei lá, digamos... as quotas raciais em universidades. Em geral, eu já havia pensando sobre aquilo. Então, digo: “É uma medida paliativa. Se houvesse educação pública primária de qualidade, os alunos pobres, negros, pardos e índios chegariam à porta da universidade em condições iguais de disputar com os ricos e brancos”.

Aí vem alguém e argumenta: “Mas isso demoraria muito para corrigir as injustiças históricas”. E eu rebato: “Estamos esperando há 400 anos, podemos fazer as coisas certas em 10, sem classificações raciais perigosas”. Neste momento, o outro pessoaliza: “Você diz isso porque é branco...” Pronto. O tom vai começar a se elevar. Em poucos minutos, haverá gente chateada.

Era para ser uma roda de amigos descontraindo, e estão todos constrangidos. Por quê? Por causa das quotas nas universidades. Que me importam as quotas em universidades? Que diferença faz ter ou não razão sobre qualquer maldito tema público?

Uma pessoa pode ser muito correta política e ideologicamente e ser desagradável socialmente. Olhe aquele cara ali: ele é competente, bem-sucedido, inteligente, tem o coldre carregado de argumentos ferinos, construiu todo um edifício de boas ideias sobre a sociedade, mas quero distância dele. Por quê? Simplesmente porque ele é aborrecido. De que adianta ter estatura moral, intelectual e profissional, se você não tem estatura espiritual?

Imagine um concurso para amigo. Responda as questões: você é de esquerda ou de direita? Lula ou FH? Lewandowski ou Barbosa? Gremista ou colorado? Contra ou a favor do tatu-bola? Vegetariano ou onívoro? Abstêmio ou bom bebedor?

É assim que você escolhe suas companhias? Não, claro que não. Então, vamos parar agora com essa discussão.

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