quinta-feira, 11 de outubro de 2012



11 de outubro de 2012 | N° 17219
LETICIA WIERZCHOWSKI

Mania de reclamar

Eu nado há muitos anos. Pela manhã bem cedinho, acordo, preparo a minha bolsa e vou para o clube.

Pois, no clube que eu frequento, vínhamos sofrendo com um vestiário feminino pequeno e muito pouco funcional: oito ou nove chuveiros elétricos que cansavam no meio de um banho, corredores gelados, 23 apertando-se no espaço onde cabiam oito. Um banheiro novo estava em construção, e esse foi o alento durante as frias manhãs invernais, quando as resistências (tanto nossas quanto dos chuveiros) pifavam a toda hora.

Pois, nesta última segunda-feira, chego no clube bem cedinho e, supressa!, estava pronto o tão sonhado vestiário novo. Um funcionário orgulhosamente indicava-nos o corredor antes interditado e, seguindo por ali, logo entrei num banheiro oito vezes maior do que o anterior. Chuveiros? Nem contei, mas creio que são na casa de três dezenas.

Chuveiros quentes, com água da caldeira e alguns elétricos para o caso de um plano B. Muitos bancos com estruturas para pendurar roupas e toalhas, muitos reservados sanitários, muitas tomadas (no outro eram apenas cinco, e imaginem, no auge do inverno gaúcho, a fila do secador de cabelos...).

Eu fiquei bastante contente com o novo e tão esperado vestiário feminino e imaginei que o sentimento era coletivo – como toda coisa nova, há de se acostumar com ela: torneiras diferentes, armários externos, crianças eufóricas com tanto espaço a descobrir.

Mas o que me chamou mais atenção não foram as portas blindex, nem a água abundante e quente, e sim a inusitada indignação de algumas frequentadoras – depois de meses de aperto e chuveiro frio, a mulherada já estava reclamando aos responsáveis. Cadê as janelas? E os armários, do lado de fora, por quê? E esse ar-condicionado gelado? E esse corredor tão comprido? E essa boca tão grande, é para quê, para me comer?

Ô, mania de reclamação! Reclamar é preciso, é um exercício de civilidade, mas reclamar parece ter virado uma espécie de esporte. Por que nunca nada está bom o suficiente para a gente? Por que, se faz frio, é ruim, e se vem o calor, é ruim, e se chove, chove, e se faz sol, faz sol? Reclama-se dos vizinhos, do carro do lado, do pedestre, da professora, do garçom, do cliente, do banheiro velho, do banheiro novo. Reclama-se sem perspectiva e sem nenhuma autoanálise. Reclamo, logo existo.

Mas uma existência de queixumes e exigências deve ser uma coisa muito chata! Reclamar demais envelhece, desgasta e rouba tempo. Adaptar-se talvez seja mais lógico (Darwin já provou isso) e mais proveitoso. Uma senhora, no banheiro novo, reclamava que, mesmo ali, ainda teria que “aturar essas crianças”. 

Fiquei olhando para a colega: melhor a algaravia feliz da meninada nos corredores recém-inaugurados do que o velho mau humor disparado às cegas. Nadar é uma ótima arma contra o envelhecimento. Mas bom humor é muito melhor.

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