quarta-feira, 17 de outubro de 2012



17 de outubro de 2012 | N° 17225
ARTIGOS - Gustavo Müller*

Teses insustentáveis

No momento em que este artigo é escrito, conclui-se o julgamento do denominado “núcleo político” do esquema de corrupção ao qual se convencionou chamar de mensalão. Diante da, pelo menos até aqui, condenação da maioria dos réus, algumas teses vêm sendo jogadas pelos petistas no afã de pôr em cheque a legitimidade do STF.

A primeira tese, como era de se esperar, é de que tal julgamento representa um “conluio das elites contra um governo popular”. Pergunta-se: seria o ministro Joaquim Barbosa um típico representante das elites? É evidente que a resposta só pode ser negativa. Assim como Lula, Barbosa provém da camada pobre da população, e com o agravante de sofrer preconceito racial.

A diferença entre ambos é que este último progrediu na vida por meio dos estudos, o que torna seus méritos inquestionáveis. Poder-se-ia ainda, segundo a ótica petista, questionar a “composição elitista da Corte”. Ora, dos 10 ministros que hoje compõem a Corte, sete foram indicados por Lula ou por Dilma, e em breve serão nove de 11...

A segunda tese que foi se constituindo ao longo desses sete anos é de que tudo não passou de um simples caixa 2. É interessante notar que a tese do caixa 2 foi assumida tanto por um chefe de Estado que, à época dos acontecimentos, ocupou cadeia nacional de rádio e TV para se dizer “traído” quanto por aqueles que pregavam a “refundação do partido” e hoje falam em “linchamento político”.

Por fim, uma vez constatada a prática criminosa, como bem apontou o decano da Corte, Celso de Mello, surge a tese de que “a corrupção é endêmica no Brasil”, sendo a “privataria” sua modalidade anterior. Ora, um crime precedente praticado por outrem não atenua aquele que se comete posteriormente. Se assim fosse, ao invés de rever o governo Cardoso teríamos de retroceder aos Orleans e Bragança. Da mesma forma, crimes de natureza semelhante não podem ser evocados como defesa. Se assim fosse, no Brasil não haveria condenação por homicídio...

*PROFESSOR DE CIÊNCIA POLÍTICA DA UFSM

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