16
de outubro de 2012 | N° 17224
CLÁUDIO
MORENO
Será que ouvi
direito?
9 -
Uma estranha preferência – Uma autora francesa do séc. 19, Maria Deraismes,
combativa feminista, desenvolveu um interessante raciocínio para demonstrar não
que as mulheres eram iguais aos homens, mas que, na verdade, eram mesmo
superiores.
Assinalando
o fato de Buda, Fo-Hi e Jesus Cristo terem sido, todos três, gerados por
mulheres fecundadas por um espírito, concluiu, triunfante: “Quero salientar,
com prazer, que a tradição, venha ela da latitude que vier, jamais registrou
que tenha ocorrido fato semelhante com um macho.
Por
que Deus sempre escolheu uma mulher para fazer essas alianças, e nunca um
homem? Afinal, milagre por milagre, não poderia ter feito nascer um Salvador
das entranhas ou da cabeça de um espécime do sexo forte, ou nobre, como ele
próprio se intitula? Esta preferência não parece significativa?”.
10 -
Para políticos e marqueteiros – Certa feita, um rei foi avisado de que em breve
chegaria ao palácio um visitante indesejável, um espertalhão que ganhava a vida
adulando os poderosos. “Tome cuidado, Majestade”, disseram-lhe os conselheiros.
“Este
vigarista conquista a amizade dos grandes homens à força de muito elogio e
lisonja, para depois obter concessões de terras e presentes valiosos”. O rei
sorriu, superior: “Não se preocupem: sou experiente demais para cair nesses
truques. Deixem-no comigo”.
Com
efeito, assim que o homem chegou, beijou o solo entre as mãos e foi logo
recitando um poema em homenagem ao rei: “Quão grande é a honra de compartilhar
o mesmo teto com o mais poderoso dos monarcas!
Por
pouco não me cega o brilho de vosso semblante, a glória de vossa presença,
vosso charme inexcedível, vossa graça, vossa elegância...” – e continuou sua
ladainha, nesse mesmo tom, por mais uns vinte minutos. Quando fez uma pequena
pausa para tomar fôlego, um conselheiro aproveitou a oportunidade para fazer um
rápido comentário ao ouvido real: “Não lhe disse, Majestade?
O
homem tem uma lábia perigosa!” – ao que o rei retrucou: “Não temam por mim.
Como já disse, não é qualquer um que me engana. Podem ter certeza de que, na
hora em que começar a me bajular, mando botá-lo daqui para fora – só que, como
vocês viram, tudo o que ele disse até agora é a mais pura verdade.
11 -
A sabedoria da Natureza – Bernardin de Saint-Pierre, tão apreciado por nossos
autores do Romantismo, tinha um modo muito peculiar de entender o mundo: “Por
que a Natureza deu quatro patas para a ovelha e seis para a mosca, que é muito
mais leve? Confesso que fiquei embaraçado com esta reflexão. Contudo, tendo um
dia observado atentamente uma mosca que pousou na página que eu estava lendo,
percebi que ela se ocupava em esfregar alternativamente a cabeça e as asas ora
com as duas patas dianteiras, ora com as traseiras. Entendi, então, que ela
realmente precisa ter seis, a fim de se manter de pé”.
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