28
de outubro de 2012 | N° 17236
O CÓDIGO
DAVID
O casamento dos séculos
Há
500 anos, um casamento mudou a SUA vida.
Direi
por quê.
Esse
casamento ocorreu num 28 de outubro como o deste domingo, por coincidência o
dia em que, às margens da feérica Avenida Paulista, no peito pulsante das finanças
do Brasil, realiza-se um não menos pulsante Festival de Noivas. Li sobre o
Festival esta semana, e imagino as noivas em festa na Pauliceia. Porém, nenhuma
das futuras esposas que alegres circularão por São Paulo neste domingo haverá de
protagonizar cerimônia semelhante à do casamento a que me refiro: o de Catarina
de Médicis com Henrique II, mais tarde consagrados rei e rainha da França.
Primeiro
vamos falar da cerimônia. Naquele tempo, os padres não presidiam casamentos,
mas o de Catarina teve a presença de ninguém menos do que o chefe de todos os
padres, o papa, que era seu tio. A festa durou dois dias. No segundo, uma bela
cortesã de Marselha resolveu temperar o vinho dos convidados mergulhando seus
seios nas taças cheias. As outras mulheres presentes gostaram da ideia e imitaram
a marselhesa. Em alguns minutos, a festa virou orgia e como orgia seguiu
madrugada afora.
A
essa altura, no entanto, os noivos já haviam sido conduzidos pelo pai de
Henrique, o rei, para o quarto nupcial. O próprio rei os orientou como proceder.
E
eles procederam.
No
dia seguinte, o papa visitou o quarto para conferir se haviam procedido. De
fato, consummatun est. Ansioso para que a sobrinha engravidasse, ele permaneceu
em Paris mais alguns dias, mas... nada. Muito prático, o santo padre sugeriu que
ela experimentasse a fertilidade de outros homens, só que Catarina já estava
apaixonada por Henrique e manteve-se fiel a ele, como continuaria por toda a
vida. Mesmo um casamento por encomenda pode gerar amor verdadeiro.
A
grande invenção de Catarina
A
cerimônia pôde ser considerada no mínimo alegre, já sabemos, mas, afinal, por
que aquele casamento foi tão importante? Arrá! Porque, transformada em rainha,
Catarina transformou os franceses, que transformaram o mundo.
Catarina
não era francesa; era florentina. Na época, Florença era a cidade mais
sofisticada do mundo. Os franceses, em comparação com os florentinos, não
passavam de grosseirões. Foi Catarina quem os ensinou modos à mesa. Hoje, você come
com garfo por causa dela. Catarina, aliás, gostava bastante de comida. Depois
dos 40 anos, engordou a tal ponto que, um dia, uma égua não suportou seu peso,
desabou com ela sobre o lombo e faleceu.
E aí
está outro gosto de Catarina: cavalgar. O problema é que, na época, as mulheres
não usavam nada sob os amplos vestidos. Assim, quando elas iam montar, os
homens em volta se divertiam com a paisagem de suas intimidades. Catarina,
engenhosa, inventou algo para solucionar a questão: a calcinha, um pequeno pedaço
de tecido para a região pudenda, mas um grande passo para a Humanidade.
Catarina
também instituiu o 1º de janeiro como primeiro dia do ano civil entre os
franceses – antes dela, a Páscoa era comemorada nessa data. Um de seus filhos
foi o disseminador do emocionante jogo de bilboquê. E a outra inspirou um bom
romance de Dumas, que inspirou um bom filme com a ótima Isabelle Adjani: a
Rainha Margot.
Não
são motivos suficientes para comemorar a data do casamento de Catarina?
A
gangorra
Um
importante juiz de direito amigo meu disse outro dia uma frase que me ficou
latejando no cérebro:
– Liberdade
e segurança estão numa gangorra: quanto mais se tem uma, menos se tem a outra.
Perfeito.
Uma sociedade madura, sabedora desta verdade, tem de buscar o equilíbrio, tem
de compreender o momento em que uma tábua da gangorra deve estar mais alta e a
outra mais baixa, e as razões disso.
O
indivíduo também precisa ter essa consciência. Na infância, a criança bem
cuidada passa os dias obedecendo ordens dos adultos. Ela não tem liberdade, mas
está protegida – tem segurança. Na adolescência, ela se rebela, ela cai no
mundo, ela busca liberdade – e corre riscos, e tem menos segurança. O adulto, à
medida que o tempo passa, vai lidando com essa gangorra. Ou, pelo menos,
deveria saber lidar com ela.
Em
seu livro de viagens, a Martha Medeiros diz: “A liberdade é uma ilusão, eu sei.
Ninguém é inteiramente livre, a não ser que não possua vínculos”. Exatamente: vínculos
são laços afetivos, e laços prendem.
O
casamento tem essa função, de ser um laço, de unir. Donde, seu símbolo é uma
aliança, que nada mais é do que um elo. Uma pessoa casada é menos livre, mas é mais
segura. Você é que decide em que lado da gangorra vai sentar.
O
QUE LER - Um lugar na janela
Li o
novo livro da Martha Medeiros, Um lugar na janela – relatos de viagem, e depois
fui conversar com ela. Então, a Martha, modesta como é, disse, com intenção de
se menoscabar, que o texto do livro às vezes parece-lhe ter sido escrito por
uma menina de 13 anos de idade. Dei um tapa na testa. Mas é isso mesmo!
O
livro é tão genuíno, tão puro, que dá a impressão de ser obra de uma menina. E é
justamente por isso que “Um lugar na janela” é encantador. Esta é, precisamente, a palavra: encantador.
Trata-se
de um livro sem dissimulações, como todas as pessoas deveriam ser. Martha não
esconde o seu deslumbramento com os lugares que visita e, assim, deslumbra o
leitor. Mais do que isso: faz com que o leitor se sinta jovem, talvez com 13 anos.
Uma bela idade para se ter.
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