sábado, 27 de outubro de 2012



28 de outubro de 2012 | N° 17236
ARTIGOS - Diana Lichtenstein Corso *

Maduros, não caindo

Manchetes aleatórias de jornal: “Idoso(a) é atacado por ladrões”, ou “Idoso morre num acidente”, “Idoso é suspeito de assassinato”. Para minha surpresa, lendo a matéria descubro que o idoso em questão tem ao redor de 60 anos! Não estou pronta para me considerar uma idosa em 10 anos.

Para um jovem repórter de 20 anos, tudo depois dos 50 é a antecâmara do fim, então tanto faz. Não o recrimino, todos ficamos confusos para entender o que é mesmo um velho. Há o preconceito social, velhice é aquilo cujo nome não se deve mencionar, como se invocasse um mal.

Mas também a confusão é propiciada porque a fase considerada “terceira idade” (quais são mesmo as duas primeiras, não há muito mais?) tornou-se muito longa e as pessoas amadurecem e fenecem de formas díspares.

É similar ao que ocorre na infância. Existem crianças de todos os tamanhos e diferentes graus de amadurecimento respondendo pela mesma idade. O crescimento passa por épocas de aceleração, outras de estagnação. Uns funcionam aos trancos, por arranques, outros numa linha contínua, há ainda os que desabrocham do dia para a noite.

A juventude e a idade adulta são as épocas mais uniformes da vida em termos de imagem corporal. Desde que se “bota corpo” até que os “enta” começam a se empilhar, somos muito parecidos. É difícil saber se alguém tem 20 ou 30 e tantos. Depois disso, ficamos desiguais como as crianças.

Existem sexagenários, septuagenários e octogenários de todos os matizes. Tirando um que outro achaque e alguns médicos a mais na rotina, há hoje nessa fase muita gente produtiva, independente, bonita. De mesma idade, há os que cedo se acovardam, se isolam, comem e dormem frente à televisão, vivem para a doença e esperam a morte.

Em respeito a esses cidadãos vividos e vivazes, e a nós mesmos, talvez devêssemos criar uma nomenclatura mais complexa para a dita terceira idade. Gostaria do direito às etapas. Começaria, aos 60, por “adultos tardios” (assim como existem os “jovens adultos”, em inglês usam “older adults”). “Maduros” também é bacana, dá ideia de finalmente estar no ponto.

Depois, talvez “septuagenários”, ou “idosos principiantes”? Aos 80, finalmente aceitaria ser considerada idosa, para que as limitações do meu corpo fossem respeitadas com direito à acessibilidade e uma rotina mais pausada. Os argentinos têm palavras simpáticas: “maduros” para os que recém começam a sentir o pior da idade, “gente grande” para os que já chegaram lá. Aceito sugestões.

A infância, cuja valorização social tem poucas centenas de anos, já possui uma série de palavras para descrever seus processos. O mundo nunca esteve tão velho, mas a maturidade ainda não recebeu a mesma consideração. Viver mirando-se numa patética juventude eterna nos impede de usufruir da experiência. Nomear, classificar, estudar, servem para aceitar e, quem sabe, usufruir da sabedoria daqueles que talvez tenham aprendido algo com a vida.

dianamcorso@gmail.com

*PSICANALISTA

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