28
de outubro de 2012 | N° 17236
ARTIGOS
- Diana Lichtenstein Corso *
Maduros, não
caindo
Manchetes
aleatórias de jornal: “Idoso(a) é atacado por ladrões”, ou “Idoso morre num
acidente”, “Idoso é suspeito de assassinato”. Para minha surpresa, lendo a
matéria descubro que o idoso em questão tem ao redor de 60 anos! Não estou
pronta para me considerar uma idosa em 10 anos.
Para
um jovem repórter de 20 anos, tudo depois dos 50 é a antecâmara do fim, então
tanto faz. Não o recrimino, todos ficamos confusos para entender o que é mesmo
um velho. Há o preconceito social, velhice é aquilo cujo nome não se deve
mencionar, como se invocasse um mal.
Mas
também a confusão é propiciada porque a fase considerada “terceira idade”
(quais são mesmo as duas primeiras, não há muito mais?) tornou-se muito longa e
as pessoas amadurecem e fenecem de formas díspares.
É
similar ao que ocorre na infância. Existem crianças de todos os tamanhos e
diferentes graus de amadurecimento respondendo pela mesma idade. O crescimento
passa por épocas de aceleração, outras de estagnação. Uns funcionam aos
trancos, por arranques, outros numa linha contínua, há ainda os que desabrocham
do dia para a noite.
A
juventude e a idade adulta são as épocas mais uniformes da vida em termos de
imagem corporal. Desde que se “bota corpo” até que os “enta” começam a se
empilhar, somos muito parecidos. É difícil saber se alguém tem 20 ou 30 e
tantos. Depois disso, ficamos desiguais como as crianças.
Existem
sexagenários, septuagenários e octogenários de todos os matizes. Tirando um que
outro achaque e alguns médicos a mais na rotina, há hoje nessa fase muita gente
produtiva, independente, bonita. De mesma idade, há os que cedo se acovardam,
se isolam, comem e dormem frente à televisão, vivem para a doença e esperam a
morte.
Em
respeito a esses cidadãos vividos e vivazes, e a nós mesmos, talvez devêssemos
criar uma nomenclatura mais complexa para a dita terceira idade. Gostaria do
direito às etapas. Começaria, aos 60, por “adultos tardios” (assim como existem
os “jovens adultos”, em inglês usam “older adults”). “Maduros” também é bacana,
dá ideia de finalmente estar no ponto.
Depois,
talvez “septuagenários”, ou “idosos principiantes”? Aos 80, finalmente
aceitaria ser considerada idosa, para que as limitações do meu corpo fossem
respeitadas com direito à acessibilidade e uma rotina mais pausada. Os
argentinos têm palavras simpáticas: “maduros” para os que recém começam a
sentir o pior da idade, “gente grande” para os que já chegaram lá. Aceito
sugestões.
A
infância, cuja valorização social tem poucas centenas de anos, já possui uma
série de palavras para descrever seus processos. O mundo nunca esteve tão
velho, mas a maturidade ainda não recebeu a mesma consideração. Viver
mirando-se numa patética juventude eterna nos impede de usufruir da
experiência. Nomear, classificar, estudar, servem para aceitar e, quem sabe,
usufruir da sabedoria daqueles que talvez tenham aprendido algo com a vida.
dianamcorso@gmail.com
*PSICANALISTA
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