14
de outubro de 2012 | N° 17222
PAULO
SANT’ANA
O calculista
O
que acho interessante nas mulheres é que, nas relações humanas, elas se
aproximam muito mais dos homens sem qualquer interesse romântico do que os
homens o fazem com elas.
Um
homem, quando se aproxima de uma mulher, em qualquer circunstância da vida
cotidiana, sempre traz subjacente um interesse senão lascivo pelo menos sensual.
Com
as mulheres, não se dá assim, elas travam relacionamento com os homens
desinteressadas de qualquer propósito lúbrico. Elas falam com os homens como se
falassem com outras mulheres.
Já o
homem traz sempre dentro de si o interesse sexual. Pode ser remota, mas lá
dentro da cabecinha do homem viceja a esperança de que ele possa vir a ter um
caso com aquela mulher que está falando com ele inconsequentemente.
Deve
ser porque o homem venera a relação sexual como meta existencial. Enquanto que
a mulher, originalmente, só se interessa por sexo quando quer ser mãe através
dele ou quando ama o homem a quem se entrega.
A
regra é essa, evidentemente que ela tem exceções.
Eu
tenho um amigo, conhecidíssimo no meio jornalístico, dá vontade até de citar o
nome dele, mas não posso fazê-lo, porque é casado.
Ele
usou aqui na RBS, onde trabalhou muitos anos, uma tática para atrair mulheres
para o sexo. A tática consistia em fazer amizades com suas colegas. Ele
entendia que, quanto mais intensa e profunda se tornasse a amizade com sua
colega, mais condições ele tinha de dar o bote.
Ele
levava meses, às vezes anos, conversando com uma colega, sem nunca ter-se feito
notar por propósito sexual. Pelo contrário, se pautava rigorosamente por não
tratar de assunto de conquista com aquela colega, se fazia de tonto, de
desinteressado, até mesmo de misógino, isto é, que não gosta de mulher.
E
quando seu alvo por isso passava a confiar inteiramente no meu amigo, ele
soltava seu veneno. E, depois desse demorado método de dissimulação, como a
colega de meu amigo dedicava a ele toda a sua confiança e amizade, ela cedia.
Mais uma tombava diante da percuciência demolidora do meu amigo.
O
que eu quero dizer é que uma mulher jamais exercitaria essa operação calculista
para cima de um homem.
Porque
as mulheres confiam muito mais no acaso para o surgimento do amor do que em
qualquer um método preestabelecido.
Ah,
quantas e quantas meu amigo abateu com seu método. Por sinal, esse exercício é
muito comum: se duas pessoas de sexos opostos passam a se frequentar e
conversam todos os dias e todas as horas, a possibilidade de que venham a ter
um colóquio é muito grande.
Era
nisso basicamente que meu amigo confiava.
E,
quando eu via o meu amigo conversando em retoços verbais com uma colega no bar,
eu já vaticinava que ela seria a próxima vítima.
Eu
jamais me entregaria a essa prática, pela simples razão de que não tenho
paciência.
E,
em qualquer aspecto ou setor da vida, só obtém a melhor colheita quem cultivar
cuidadosamente a paciência.
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