sábado, 13 de outubro de 2012



14 de outubro de 2012 | N° 17222
PAULO SANT’ANA

O calculista

O que acho interessante nas mulheres é que, nas relações humanas, elas se aproximam muito mais dos homens sem qualquer interesse romântico do que os homens o fazem com elas.

Um homem, quando se aproxima de uma mulher, em qualquer circunstância da vida cotidiana, sempre traz subjacente um interesse senão lascivo pelo menos sensual.

Com as mulheres, não se dá assim, elas travam relacionamento com os homens desinteressadas de qualquer propósito lúbrico. Elas falam com os homens como se falassem com outras mulheres.

Já o homem traz sempre dentro de si o interesse sexual. Pode ser remota, mas lá dentro da cabecinha do homem viceja a esperança de que ele possa vir a ter um caso com aquela mulher que está falando com ele inconsequentemente.

Deve ser porque o homem venera a relação sexual como meta existencial. Enquanto que a mulher, originalmente, só se interessa por sexo quando quer ser mãe através dele ou quando ama o homem a quem se entrega.

A regra é essa, evidentemente que ela tem exceções.

Eu tenho um amigo, conhecidíssimo no meio jornalístico, dá vontade até de citar o nome dele, mas não posso fazê-lo, porque é casado.

Ele usou aqui na RBS, onde trabalhou muitos anos, uma tática para atrair mulheres para o sexo. A tática consistia em fazer amizades com suas colegas. Ele entendia que, quanto mais intensa e profunda se tornasse a amizade com sua colega, mais condições ele tinha de dar o bote.

Ele levava meses, às vezes anos, conversando com uma colega, sem nunca ter-se feito notar por propósito sexual. Pelo contrário, se pautava rigorosamente por não tratar de assunto de conquista com aquela colega, se fazia de tonto, de desinteressado, até mesmo de misógino, isto é, que não gosta de mulher.

E quando seu alvo por isso passava a confiar inteiramente no meu amigo, ele soltava seu veneno. E, depois desse demorado método de dissimulação, como a colega de meu amigo dedicava a ele toda a sua confiança e amizade, ela cedia. Mais uma tombava diante da percuciência demolidora do meu amigo.

O que eu quero dizer é que uma mulher jamais exercitaria essa operação calculista para cima de um homem.

Porque as mulheres confiam muito mais no acaso para o surgimento do amor do que em qualquer um método preestabelecido.

Ah, quantas e quantas meu amigo abateu com seu método. Por sinal, esse exercício é muito comum: se duas pessoas de sexos opostos passam a se frequentar e conversam todos os dias e todas as horas, a possibilidade de que venham a ter um colóquio é muito grande.

Era nisso basicamente que meu amigo confiava.

E, quando eu via o meu amigo conversando em retoços verbais com uma colega no bar, eu já vaticinava que ela seria a próxima vítima.

Eu jamais me entregaria a essa prática, pela simples razão de que não tenho paciência.

E, em qualquer aspecto ou setor da vida, só obtém a melhor colheita quem cultivar cuidadosamente a paciência.

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