16
de outubro de 2012 | N° 17224
FABRÍCIO
CARPINEJAR
Meu sonho de
casamento
Meu
sonho é subir ao altar. E uma mulher alucinada gritar do fundo da igreja:
–
Não, ele me pertence, eu ainda o amo.
Seria
o máximo. O pianista buscaria despistar o pânico tocando Princesa Diana, de
Elton John, haveria uma agitação febril no átrio, burburinho e gemidos
frenéticos entre os convidados, o padre se manteria de boca aberta, a noiva
iria me fuzilar:
–
Quem é ela?
Explicaria
baixinho no ouvido que é uma antiga namorada sem importância.
Todos
os olhos estariam voltados para minha boca, eu roubaria a cena. Finalmente
veriam que meu terno preto era Armani, que custou tão caro quanto o véu e a
grinalda.
Para
manter o suspense, não responderia no ato, giraria o rosto indeciso para o lado
esquerdo e direito, como torcedor em partida de tênis. Até emitir a sentença:
– Eu
amo minha noiva. Você é passado. Some daqui!
Depois
do susto, garantiríamos nosso futuro. Nenhum incidente poderia nos separar de
novo.
Ela
completaria bodas de ouro comigo, jamais cogitaria a distância, permaneceria
fiel vida adentro.
Nada
como o pânico para renovar os votos de felicidade. Nada como um dilema para
fortalecer decisões.
A
reconciliação necessita acontecer antes mesmo da briga. É o medo de perder o
par que reforça nossa entrega.
Orgulharia
sua família e amigos ao descartar publicamente uma rival, ao mandá-la embora
desprovido de piedade.
Aquilo
seria a maior prova de amor. Muito melhor do que ser casto em festa de
solteiro.
Receberia
a confiança eterna de sua aliança, a cumplicidade delicada de sua fé.
Mostraria
que sou o tipo ideal, sério e devotado: não estraguei a festa, não humilhei seu
vestido, venci as tentações egoístas.
Deveria
existir um serviço para contratar “loucos da igreja”. Senhoritas e senhores,
disponíveis em books nas agências de publicidade, preparados para protestar no
casório.
Contidos
no princípio da cerimônia, romperiam o corredor com estardalhaço na hora em que
o padre falasse: “Se alguém tem algo contra este casamento, que diga agora ou
cale-se para sempre”.
Assim
como as carpideiras, recrutadas para chorar em velórios, formariam uma nova
categoria profissional, um time de lindos modelos provocando ciúme no noivo e
na noiva e apimentando o relacionamento.
Seriam
atores e atrizes dramáticos e desesperados realizando uma intervenção amorosa e
criando intrigas existenciais.
Todo
não pede um sim. Todo governo requer oposição.
Casamento
de sucesso depende de torcida contrária.
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