Jaime
Cimenti
Amor e redenção na Coreia do
Norte
O
romance Jun Do foi considerado pela crítica norte-americana um dos dez melhores
lançamentos deste ano e foi elogiado pelos principais jornais, como Washington
Post, New York Times e The Guardian. Adam Johnson, o autor, é professor de
criação literária na Universidade de Stanford e suas obras de ficção já
figuraram em publicações de prestígio como Granta, Paris Review e Harper’s
Bazaar.
Como
constatarão os leitores brasileiros, não por acaso, a narrativa foi considerada
uma versão épica de 1984, de George Orwelll, e muitos compararam o autor a
Balzac.
O
protagonista começa nas camadas mais simples da escala social da Coreia do
Norte e segue até o seu topo, e o relato traz abundância de detalhes, anarquia
e até humor.
Pak
Jun Do é o filho atormentado com o desaparecimento de sua mãe, que vive com o
pai, o administrador do Longo Amanhã, um campo de trabalho para órfãos da
Coreia do Norte. Reconhecido por sua lealdade e pelos instintos aguçados, Jun
Do chama a atenção dos superiores do Estado, alcança posições cada vez mais
importantes e parte para um caminho sem volta, depois de atravessar águas
geladas, túneis escuros e as assustadoras câmaras de espiões do regime
ditadorial de seu país.
Jun
Do se considera um humilde cidadão da maior nação do mundo e se transforma num
sequestrador profissional, que, para sobreviver, navega em meio às regras
voláteis, à violência extrema e às exigências absurdas das autoridades
coreanas.
Levado
ao limite máximo do ser humano, se vê sem opções quando seu principal rival é o ditador Kim Jong II, que
ameaça roubar a mulher que ele ama. Adam Johnson, todavia, mostra que há muita
vida e humanidade por trás das concepções de uniformidade rígida de um regime
fechado como o da Coreia do Norte, especialmente em Jun Do.
A
história contemporânea da Coreia e o universo de estratégias que sustenta seu
poder totalitário estão no romance, que, acima de tudo, é uma saga de amor,
esperança e redenção, no país mais fechado do mundo. Muita propaganda,
repressão implacável e aniquilação das liberdades individuais e da cidadania
estão em meio à fome, à corrupção e à crueldade e a momentos de companheirismo,
beleza e amor.
Em
síntese, Johnson conseguiu reproduzir o misterioso mundo coreano com um espírito
de sábio nativo, contrapondo as terríveis atrocidades do regime com a
delicadeza do belo, do amor e da esperança. LaFonte, 544 páginas, tradução de
Adriana Gotlieb, R$ 44,90, www.editoralafonte.com.br.
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