sexta-feira, 26 de outubro de 2012


Jaime Cimenti

Amor e redenção na Coreia do Norte

O romance Jun Do foi considerado pela crítica norte-americana um dos dez melhores lançamentos deste ano e foi elogiado pelos principais jornais, como Washington Post, New York Times e The Guardian. Adam Johnson, o autor, é professor de criação literária na Universidade de Stanford e suas obras de ficção já figuraram em publicações de prestígio como Granta, Paris Review e Harper’s Bazaar.

Como constatarão os leitores brasileiros, não por acaso, a narrativa foi considerada uma versão épica de 1984, de George Orwelll, e muitos compararam o autor a Balzac. 

O protagonista começa nas camadas mais simples da escala social da Coreia do Norte e segue até o seu topo, e o relato traz abundância de detalhes, anarquia e até humor.

Pak Jun Do é o filho atormentado com o desaparecimento de sua mãe, que vive com o pai, o administrador do Longo Amanhã, um campo de trabalho para órfãos da Coreia do Norte. Reconhecido por sua lealdade e pelos instintos aguçados, Jun Do chama a atenção dos superiores do Estado, alcança posições cada vez mais importantes e parte para um caminho sem volta, depois de atravessar águas geladas, túneis escuros e as assustadoras câmaras de espiões do regime ditadorial de seu país.

Jun Do se considera um humilde cidadão da maior nação do mundo e se transforma num sequestrador profissional, que, para sobreviver, navega em meio às regras voláteis, à violência extrema e às exigências absurdas das autoridades coreanas.

Levado ao limite máximo do ser humano, se vê sem opções quando seu  principal rival é o ditador Kim Jong II, que ameaça roubar a mulher que ele ama. Adam Johnson, todavia, mostra que há muita vida e humanidade por trás das concepções de uniformidade rígida de um regime fechado como o da Coreia do Norte, especialmente em Jun Do.

A história contemporânea da Coreia e o universo de estratégias que sustenta seu poder totalitário estão no romance, que, acima de tudo, é uma saga de amor, esperança e redenção, no país mais fechado do mundo. Muita propaganda, repressão implacável e aniquilação das liberdades individuais e da cidadania estão em meio à fome, à corrupção e à crueldade e a momentos de companheirismo, beleza e amor.

Em síntese, Johnson conseguiu reproduzir o misterioso mundo coreano com um espírito de sábio nativo, contrapondo as terríveis atrocidades do regime com a delicadeza do belo, do amor e da esperança. LaFonte, 544 páginas, tradução de Adriana Gotlieb, R$ 44,90, www.editoralafonte.com.br.

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