CLÓVIS
ROSSI
Corruptos falam a mesma
língua
Berlusconi,
Wen Jiabao e os mensaleiros reagem todos da mesma forma quando acusados ou
condenados
FORMIDÁVEL
A coincidência de reações de corruptos mundo afora quando apanhados com a mão
na massa. Repassemos as corrupções da semana para compará-las com o mensalão
brasileiro.
Na
Itália, Silvio Berlusconi, três vezes primeiro-ministro, foi condenado a quatro
anos de prisão por evasão fiscal. Usou companhias "off-shore" para
evitar impostos sobre os direitos que sua empresa Mediaset adquirira de filmes
americanos.
É o
famoso caixa dois, tão presente no julgamento do mensalão. Na Itália, por muito
que o país tenha fama de corrupto, ninguém se orgulha nem confessa caixa dois.
No
Brasil, ao contrário, até o presidente da República da época, Luiz Inácio Lula
da Silva, deu o caixa dois como desculpa para o que chamou de "erros"
de seu partido.
Segundo
Lula, o PT fizera "apenas" o que todo o mundo faz, ou seja, caixa
dois.
Por
mais que seu ministro da Justiça à época, Márcio Thomaz Bastos, tivesse dito
que esse esquema é "coisa de bandido", advogados dos réus voltaram à
tese do caixa dois em pleno Supremo Tribunal Federal, para espanto e indignação
da ministra Cármen Lúcia.
Menos
mal que, cá como lá, puniu-se a evasão fiscal que acompanha inexoravelmente o
caixa dois.
Passemos
à reação dos condenados: aqui, a condenação não passou, para os réus, de uma
conspiração da direita mancomunada com os juízes do Supremo contra líderes que
ainda se acham de esquerda.
Na
Itália, Berlusconi, que responde judicialmente em mil e um casos, passou a vida
dizendo que tudo não passava de perseguição de juízes esquerdistas, açulados
pelos comunistas, onipresentes na retórica da direita, especialmente quando se
trata de defender o indefensável.
Mudemos
de continente e de regime, para a Ásia, mais exatamente a China, uma ditadura,
ao contrário de Brasil e Itália. O "New York Times" acusa o premiê
comunista Wen Jiabao de ter feito a mágica da multiplicação do dinheiro a favor
de sua família, como se fosse um empedernido capitalista.
No
Brasil, é arquiconhecido o fato de que famílias de políticos, especialmente
caciques regionais, enriquecem muito rapidamente sempre que o patriarca chega
ao poder, que, de resto, transmite de geração em geração.
Nem
na ditatorial China nem no democrático Brasil houve, até agora, condenações
mesmo quando há sérias suspeitas de que o enriquecimento não é produto
exatamente das habilidades insuperáveis dos políticos e seus familiares.
Mas
a reação, cá como lá, não é muito diferente. Na China, o governo simplesmente
tirou do ar o "New York Times" e baniu, de suas redes sociais,
palavras que pudessem conduzir o público a se informar sobre as denúncias.
No
Brasil, é conhecida a ideia fixa de muita gente graúda do partido mais atingido
pelas condenações do mensalão de defender o "controle da mídia".
Sorte
que, na democracia, não podem fazer o que os chineses fazem, mas a fúria
censória é idêntica.
Como
se vê, corruptos são todos iguais, em todas as latitudes.
crossi@uol.com.br
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