DANUZA
LEÃO
A princesinha do
mar
Me
encanta o clima simples, onde se come bem e no fim o garçom pergunta:
"Quer que faça uma quentinha?"
Copacabana
é um bairro que saiu de moda, mas que tem sua vida própria, e diferente de
tudo.
Outro
dia fui levada por um amigo para conhecer um restaurante famoso por suas
empadas, e me senti em outro universo; apesar de ser colada a Ipanema, que é
colada ao Leblon, nada mais diferente do que esses bairros. O restaurante é na
Barata Ribeiro, rua de tráfego intenso de ônibus, vans e motos, com direito a
toda a fumaça e a todo o barulho do mundo. Numas prateleiras altas, garrafas de
vinho Gatão e Periquita e, num quadrinho, a advertência: "Ao mastigar,
cuidado com o recheio da empada. A azeitona tem caroço". Adorei.
Chama-se
O Caranguejo, e é o oposto de um lugar cool, moderno e da moda; os garçons não
foram escolhidos por sua beleza e juventude, e via-se, pela intimidade que
tinham com a casa, que devem trabalhar lá há mais de 20 anos; qualquer prato
pedido alimenta três com fartura -e todos são muito bons. A salada era típica
de um restaurante que não é da moda: três folhas de alface, três rodelas de
tomate e, em cima, três grossas rodelas de cebola. Tudo que a gente esqueceu
que existia, mas que em Copacabana continua no auge da moda.
Agora,
a frequência: muitos homens usavam camiseta sem manga, todos, praticamente,
tinham barriga, e as mulheres -bem, nenhuma poderia aspirar a ser uma top
model, e elas não estavam nem aí. Ninguém usava uma só peça de grife, ninguém
falava no celular, a conversa nas mesas era animada e embalada pelos chopes que
alternavam com os copinhos de Steinhagen, uma espécie de cachaça alemã só
consumida por profissionais. Todo mundo era normal, e como é bom saber que
ainda existe gente normal. Como o restaurante fica na esquina de uma rua que
começa na praia, é muito ventilado, por isso não havia ar-condicionado.
O
clima ali é familiar; os frequentadores devem ser sempre os mesmos, tanto que
se falam de uma mesa para outra, e são de uma enorme gentileza; um deles me
ofereceu (da mesa dele) uma travessa com patinhas de caranguejo, coisa que não
lembro de ter acontecido, jamais, em minha vida. E eu aceitei, claro.
A
animação é permanente: a partir das 11h todos já estão comendo muito, bebendo
muito, e esse clima continua a tarde inteira, entrando pela noite. Às vezes
entram famílias com crianças, e suas respectivas mães e avós; todos têm muito
bom apetite e imagino que lá nunca tenha sido pronunciada a palavra dieta.
Mas
por que estou falando de um lugar tão simples, mais para o modesto, sem uma só
das frescuras que têm todos os restaurantes chamados chiques? Começa pela
insuportável moça na porta, de preto longo, salto alto, que faz logo a
pergunta: "Tem reserva?". Como eu nunca faço reserva, e o restaurante
está vazio, digo que não, e ela me encaminha para a mesa. Mas se está vazio,
para que a pergunta? Não entendo, e não vou, jamais, entender.
E se
falo sobre este restaurante é porque me encanta esse clima simples, onde se
come bem -e barato-, e no final o garçom pergunta: "Quer que faça uma
quentinha para levar o que sobrou?". Sim, porque sempre sobra.
Não
que eu não goste de frescuras; até gosto, mas o tempo todo é insuportável. E um
lugar como esse me faz um bem tão grande ao coração e à alma que não sei nem
explicar, mas me faz feliz só de saber que certas coisas simples ainda existem.
PS -
E ainda tem caranguejo no toc toc, que vem inteiro, acompanhado de uma taboinha
e um soquete, para poder passar o dia inteiro ocupado na nobre arte de comer um
caranguejo "comme il faut".
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