sábado, 27 de outubro de 2012



28 de outubro de 2012 | N° 17236
PAULO SANT’ANA

Sadismo exagerado

Zero Hora publicou na última semana uma notícia muito estranha: um médico, aqui em Porto Alegre, prendia em casa sua namorada, uma enfermeira, e a torturava com agulhas, cortador de unhas e relho.

A enfermeira – sempre é bom recordar que era namorada do médico – apresentava marcas visíveis das agressões no rosto, no resto do corpo e, ao queixar-se à polícia, mostrava-se inteiramente lesionada e praticamente incapacitada de andar.

Sei de casos e a literatura registra a existência de sadismo e masoquismo em jogos sexuais. Não quero crer que tenha acontecido isso nesse episódio, embora ele deixe margem a essa suspeita.

Tudo isso está no meu imaginário, que se baseia no relato da notícia.

Ainda mais: o médico, depois de causar danos físicos à namorada pela tortura, a curava das lesões para que pudesse prosseguir com os maus-tratos.

Isso chega a ser fantástico: causava as lesões e depois as medicava. Que história intrigantemente contada.

Trinta anos atrás, criei uma frase aqui na minha coluna, depois muito usada nos meios de comunicação: “A maldade humana não tem limites”.

Um médico usar de relho, agulhas e cortador de unhas para torturar durante meses a sua namorada, uma enfermeira. Gostaria de conhecer melhor os detalhes dessa relação.

Há casos frequentes de sadomasoquismo em que é empregado o relho como instrumento de maus-tratos. No caso em tela, há o relho.

Diz a notícia que o médico namorava há tempos a enfermeira mas nunca tinha adotado o cárcere privado, só ultimamente.

Ou seja, maltratava-a ou torturava-a, mas não tolhia a sua liberdade. Quando passou a tolhê-la, a enfermeira foi queixar-se à polícia.

Não quero crer que ela aceitava a tortura, só não concordou com a privação da liberdade. Muito estranho tudo isso, que notícia intrigante.

Eu não teria dúvida de que o sexo está por trás disso.

Mas o médico acabou preso preventivamente e foi recolhido ao Presídio Central.

No sexo, um tapinha, um puxão nos cabelos, uma mordidinha, tudo isso são primícias que algumas pessoas consideram normais e quem sabe aceitáveis entre os parceiros.

Só que, quando essa prática descamba para a sanha doentia, corre o risco de transformar-se em tortura física.

De qualquer forma, é lamentável que um médico esteja debaixo dessa acusação. O eixo vocacional e ideal da profissão de médico é a salvação, a cura, a proteção física das pessoas. Nesse caso, contraditoriamente, o médico partiu para a tortura da namorada enfermeira.

Nunca vi dois profissionais tão deslocadas na vida como nesse episódio triste: um médico e uma enfermeira envolvidos, como autor e vítima, num episódio que, se não for de perversidade sexual, é de maldade deplorável.

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