28
de outubro de 2012 | N° 17236
PAULO
SANT’ANA
Sadismo exagerado
Zero
Hora publicou na última semana uma notícia muito estranha: um médico, aqui em
Porto Alegre, prendia em casa sua namorada, uma enfermeira, e a torturava com
agulhas, cortador de unhas e relho.
A
enfermeira – sempre é bom recordar que era namorada do médico – apresentava
marcas visíveis das agressões no rosto, no resto do corpo e, ao queixar-se à
polícia, mostrava-se inteiramente lesionada e praticamente incapacitada de
andar.
Sei
de casos e a literatura registra a existência de sadismo e masoquismo em jogos
sexuais. Não quero crer que tenha acontecido isso nesse episódio, embora ele
deixe margem a essa suspeita.
Tudo
isso está no meu imaginário, que se baseia no relato da notícia.
Ainda
mais: o médico, depois de causar danos físicos à namorada pela tortura, a
curava das lesões para que pudesse prosseguir com os maus-tratos.
Isso
chega a ser fantástico: causava as lesões e depois as medicava. Que história
intrigantemente contada.
Trinta
anos atrás, criei uma frase aqui na minha coluna, depois muito usada nos meios
de comunicação: “A maldade humana não tem limites”.
Um
médico usar de relho, agulhas e cortador de unhas para torturar durante meses a
sua namorada, uma enfermeira. Gostaria de conhecer melhor os detalhes dessa
relação.
Há
casos frequentes de sadomasoquismo em que é empregado o relho como instrumento
de maus-tratos. No caso em tela, há o relho.
Diz
a notícia que o médico namorava há tempos a enfermeira mas nunca tinha adotado
o cárcere privado, só ultimamente.
Ou
seja, maltratava-a ou torturava-a, mas não tolhia a sua liberdade. Quando
passou a tolhê-la, a enfermeira foi queixar-se à polícia.
Não
quero crer que ela aceitava a tortura, só não concordou com a privação da
liberdade. Muito estranho tudo isso, que notícia intrigante.
Eu
não teria dúvida de que o sexo está por trás disso.
Mas
o médico acabou preso preventivamente e foi recolhido ao Presídio Central.
No
sexo, um tapinha, um puxão nos cabelos, uma mordidinha, tudo isso são primícias
que algumas pessoas consideram normais e quem sabe aceitáveis entre os
parceiros.
Só
que, quando essa prática descamba para a sanha doentia, corre o risco de
transformar-se em tortura física.
De
qualquer forma, é lamentável que um médico esteja debaixo dessa acusação. O
eixo vocacional e ideal da profissão de médico é a salvação, a cura, a proteção
física das pessoas. Nesse caso, contraditoriamente, o médico partiu para a
tortura da namorada enfermeira.
Nunca
vi dois profissionais tão deslocadas na vida como nesse episódio triste: um
médico e uma enfermeira envolvidos, como autor e vítima, num episódio que, se
não for de perversidade sexual, é de maldade deplorável.
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