28
de outubro de 2012 | N° 17236
MARTHA
MEDEIROS
Sem medo de
amadurecer
Estará
chegando em breve às livrarias a nova obra do filósofo argentino Sergio Sinay,
cujo título é A Sociedade que Não Quer Crescer. Tema bastante atual e que
merece atenção. Não há alarmismo em afirmar que viramos uma sociedade de
adolescentes vitalícios, todos preocupados em manter a juventude até os 80
anos.
Uma
coisa é praticar esportes e exercícios físicos, proteger a pele, se alimentar
bem, manter cuidados para garantir a saúde, investir em lazer. Outra bem
diferente é se comportar de forma irresponsável, não assumir autoridade, não
dar um rumo à própria vida, viver encostado nos parentes. Há quem considere
mais cômodo ser criança para sempre.
De
fato, é. Temos por aí uma quantidade absurda de crianções e criançonas de 40
anos, de 50 anos, até mais. O que esperar de seus descendentes?
Não
é fácil lidar com desejos, fazer escolhas, sustentar decisões. Nos momentos de
aperto, gostaríamos de não precisar enfrentar coisa alguma e chamar um “adulto”
para resolver as questões sérias em nosso lugar. Porém, não temos mais cinco
anos.
Nem
15. Não há mais justificativa para desrespeitar as leis, dirigir de forma
inconsequente, se embebedar, fugir aos compromissos. Essa rebeldia juvenil até
possui um certo romantismo, é a porção James Dean de cada um. Só que o ator não
viveu o suficiente para virar um homem, mas você, sim.
Amadurecer
é respeitar os ciclos da vida e deixar a adolescência para trás a fim de
assumir seu lugar no mundo. O que não significa virar um adulto chato e
prepotente. É permitido divertir-se na maturidade. Muito, inclusive. Adultos
curtem a vida mais do que a garotada justamente porque não estão mais testando
limites, já viraram essa página. O que fragiliza a sociedade são pessoas que,
uma vez crescidas em estatura, não cresceram emocionalmente.
Um
adulto de verdade é aquele que não age em busca de uma recompensa – ele faz o
que tem que fazer porque é o certo.
Pra
chegar a esse encontro saudável com o dever moral, é preciso que ele tenha
consciência de quem é, de tudo o que viveu, de como suas experiências o
moldaram, e adote uma atitude firme diante de seus filhos, de seus pares, da
sociedade toda. Se considerar que isso significa “envelhecer”, que pena:
seguirá sendo um garoto mimado, uma garota bobinha, sem brio para herdar o
bastão de seus pais e sem consistência para passar o bastão adiante.
Pessoas
maduras também têm incertezas, vacilam, fraquejam. Porém sabem a hora de cortar
o laço com suas carências infantis e de interagir com o mundo a fim de torná-lo
melhor, mais digno.
São
agentes de transformação, e não de estagnação. Quando se tornarem idosos,
poderão olhar pra trás com a consciência de ter dado um sentido à sua vida, em
vez de terem percorrido anos e anos inúteis, acreditando que poderiam ser
jovens para sempre só pelo fato de andarem com a aba do boné virada pra trás.
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