11 de outubro de 2012 |
N° 17219
ARTIGOS - Fernando Lucchese *
Ciência, espiritualidade e saúde
Um seminário com este tema,
promovido pela Santa Casa, movimentou Porto Alegre recentemente. Mil e
trezentas pessoas lotaram o auditório e outras 1,5 mil, infelizmente, não
tiveram acesso. Dias antes, o assunto foi abordado no programa Conversas
Cruzadas, da TVCOM, conduzido pelo jornalista Cláudio Brito.
A pesquisa interativa realizada
durante o programa propôs a seguinte pergunta: “Você acredita que a
espiritualidade influi sobre a saúde?”. A resposta foi afirmativa para 94% dos
500 telefonemas recebidos. O confronto entre ciência e fé tem estado em pauta
em décadas recentes. Os médicos, pela essência da profissão, sempre preferiram
se posicionar ao lado do ceticismo científico à espera de evidências que os
fizessem mudar de posição. Progressivamente, estas informações começam a
surgir.
O psiquiatra americano Dr. Harold
Koenig, da Universidade de Duke, foi palestrante em nosso seminário em Porto
Alegre. Com 40 livros e 300 artigos publicados, na recente entrevista para as
páginas amarelas de Veja, Harold Koenig caracteriza bem o papel da religião no
tratamento.
Cita alguns estudos realizados em
pacientes submetidos à cirurgia cardíaca, mostrando que os que seguem uma
religião têm menos complicações, ficam menos tempo internados e pagam contas
hospitalares mais baixas. Do mesmo modo, doenças relacionadas ao estresse, como
os distúrbios cardiovasculares e hipertensão, parecem ser mais sensíveis a uma
disposição mental de cunho religioso.
A polêmica não será resolvida
rapidamente. Mas os pacientes buscam esperança para seus problemas de saúde.
Estamos desenvolvendo no Hospital São Francisco de Cardiologia da Santa Casa
uma nova linha de pesquisa que busca relacionar as influências da
espiritualidade sobre a doença cardiovascular em indivíduos submetidos a
cirurgias cardíacas e infartos. Mais de 300 pacientes em vésperas de serem
operados do coração e quase uma centena de cardiologistas responderam a um
questionário.
O resultado foi surpreendente:
70% dos pacientes gostariam que o médico falasse sobre religião com eles, mas
apenas 15% dos médicos o fazem. Como veem, ainda há um longo caminho pela
frente. Pelo interesse e aceitação de um número crescente de médicos, estou convencido
de que cabe à nossa geração assumir a responsabilidade de estudar e divulgar
com seriedade este tema, sempre procurando atender às necessidades e apelos de
nossos pacientes.
*Cirurgião
cardiovascular e diretor do Hospital São Francisco de Cardiologia da Santa
Casa
Nenhum comentário:
Postar um comentário