26
de outubro de 2012 | N° 17234
DAVID
COIMBRA
Tatata
Pimentel
Até
o começo deste ano, encontrava o Tatata Pimentel todas as semanas, durante as
gravações do Café TVCOM, e agora não o encontrarei nunca mais. Ele está morto.
Eis
o mais importante a saber sobre a Morte, essa senhora que nos ronda a todos,
todos os dias: com ela é “nunca mais”. Portanto, como já concluíram os Beatles,
life is very short e não há tempo a perder com brigas e discussões. Paz,
harmonia e alegria, é o que eu quero. Não me venha com a perfídia da vida,
rapaz.
O
Tatata Pimentel, embora gostasse de assestar uma observação ferina em meio à
conversa, embora se divertisse com as minudências escabrosas da vida dos
personagens da cidade, embora fosse um notório debochado, o Tatata Pimentel não
era, de forma alguma, um brigão. Não era um tipo belicoso.
Preferia
ficar de bem com as pessoas. Então, era fácil ficar de bem com ele e sorver da
sua ironia e da sua cultura. Era fácil ver o lado bom do Tatata. Porque esse é
o truque: todas as pessoas têm coisas positivas e negativas à disposição, você
é quem escolhe o que vai pegar. O Tatata tinha mais coisas positivas, apesar de
viver repetindo um bordão:
– Eu
não sou uma boa pessoa.
Mais
uma de suas blagues. Ele era ótima pessoa.
Ainda
este ano, quando concluía o livro que lançarei amanhã na Feira, Uma História do
Mundo, pois ainda este ano eu estava às voltas com a obra de Proust, Em Busca
do Tempo Perdido, e por esse motivo liguei para o Tatata.
Tencionava
fazer algumas relações de um naco da história do mundo com Proust, tinha
algumas dúvidas e sabia que o Tatata era capaz de dirimi-las. Tatata amava
Proust, já o havia lido em várias traduções e em francês original, estudava Em
Busca do Tempo Perdido incessantemente, dava palestras a respeito.
Quando
contei a Tatata as ilações que tirara e o que estava escrevendo, ele ficou
entusiasmado, teceu dezenas de considerações, disse que já estava ansioso para
ler o livro e prometeu que, quando o fizesse, me devolveria uma exegese
completa. Desliguei o telefone satisfeito por saber que estava no caminho
certo. Agora, com o livro pronto, sentia-me curioso para saber qual seria a
avaliação dele. E sabia que ele estaria no lançamento, amanhã. Não estará. Com
esta senhora é nunca mais.
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