sexta-feira, 26 de outubro de 2012


Jaime Cimenti

A Feira do Livro

Tem coisas e pessoas que são eternas: Dona Canô, Oscar Niemeyer, o Inter, a Mangueira, o Flamengo, a Igreja Católica, a Coca-Cola, pagar impostos, morrer e, claro, os livros e a Feira do Livro.

Os livros de papel, desses de verdade, resistem à geração som-imagem, aos meios eletrônicos e vão e vêm, eternos como as ondas do mar. A Feira do Livro de Porto Alegre, guria ainda, com menos de 60 anos, chega com a mesma pontualidade da primavera, para mostrar que é muito mais e melhor do que ela mesma, a cada ano.

É mais e melhor do mesmo. Vidas de pessoas e livros têm muito de imprevisível. Tipo aquele colega de faculdade que tu achavas que ia despontar para o anonimato e acabou rico, competente, famoso e prestigiado. Acontece. O fascínio e o terror das vidas de seres reais, imaginários ou de livros é esse: a imprevisibilidade, o momento seguinte. Quem diria que O nome da rosa, do Umberto Eco, ia bombar na crítica e no público?

Quem diria que a gurizada audiovisual leria milhares de páginas impressas do Harry Potter? Quem diria que uma estreia de um autor novato e desconhecido com o romance O perfume ia dar no que deu?

Editores, marqueteiros e escritores tentam, muitas vezes (de vez em quando conseguem) produzir o best-seller que vai agradar o público, a crítica e as academias e gerar uma grana simpática. Quando nossa feira surgiu, cabia num olharzinho e ninguém imaginou o que ela se tornaria décadas depois.

Os leitores, o tempo, os dedos do destino e umas coisas misteriosas fizeram seus papéis e, agora, vamos curtir mais uma edição revista, ampliada, melhorada e com nova capa da feira, tipo assim, um livro novinho em folha, cheirando a tinta, no meio da praça.

O melhor da feira, todos sabem, com certeza, não será apenas o que está na programação oficial, que, como sempre, está rica em forma e conteúdo. Serão acontecimentos imprevisíveis, dessas coisas que só encontros espontâneos e caminhos imprevistos apresentam, essas descobertas em algum olhar ou página, em algum momento inesperado.

O melhor da feira é o improviso decorado, o inusitado, assim como o conjunto de notas que surgem quando músicos competentes, mesmo sem se conhecer, se divertem muito numa jam session. Improviso, espontaneidade, surpresa, encontro, mistérios, velhas e novas novidades, coisas que cada um descobrirá por si, são o melhor da vida e da feira. Nos vemos lá! 
Jaime Cimenti

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