Jaime
Cimenti
Envolvente sátira sobre o homem
moderno
O
romance A terrível intimidade de Maxwell Sim, do escritor inglês Jonathan Coe, é,
antes de tudo, uma parábola perfeita sobre a vida moderna, uma sátira
envolvente sobre um homem dos dias de hoje, imerso em redes sociais mas,
paradoxalmente, cada vez mais solitário. Jonathan Coe nasceu em Birmingham, em 1961,
e A terrível intimidade de Maxwell é seu nono romance.
No
Brasil, o autor publicou, pela Record, O legado da família Winshow, A casa do
sono, O círculo fechado e A chuva antes de cair. Maxwell tem um emprego nada
animador em uma loja de departamentos e conta com 74 amigos no Facebook, apesar
de ser incapaz de manter uma conversa de dois minutos em um restaurante. Desde
que a esposa o deixou, há seis meses, ele não vê a filha.
Seu
pai nunca lhe deu afeto e guarda segredos numa pasta. Desde o início da
narrativa, fica claro que Maxwell é um homem absolutamente comum, extremamente
solitário e que está, sem a menor dúvida, no fundo do poço. Tudo parecia
congelado até o protagonista receber, de um velho amigo, uma proposta de
trabalho para divulgar uma nova marca de escovas de dentes ecologicamente
corretas.
Para
cumprir a tarefa, ele terá de viajar de carro ao Norte das ilhas britânicas e,
nessa jornada, é que sua verdadeira história será revelada. Terá Maxwell condições
para tanto? Pelo caminho ele encontrará a ex-mulher e a filha, amigos antigos e
possíveis namoradas. A jornada é insegura e, aqui e ali, o autor do romance
evoca Donald Crowhurst, navegador solitário que sonhou dar a volta ao mundo e
acabou consumido pela loucura.
Por
pouco Max não chega a tal ponto, mas o fato é que, em determinados momentos, o único
contato com o mundo exterior é a voz do GPS do carro. De tão comum, Max acaba
por soar sempre engraçado, e a narrativa, em tons de sátira, mostra com
habilidade a solidão contemporânea.
As
relações de outrora não fazem mais sentido, e a estagnação da sociedade inglesa
é mostrada em cada cidade visitada por Sim. Cada cidade é o microcosmo de um país
em crise, e Jonathan Coe, com talento, primeiro desconstrói um homem comum,
para, depois, reconstruí-lo.
Maxwell
jamais poderia imaginar que passaria por uma tamanha espiral de
autoconhecimento e loucura. Divertido e, ao mesmo tempo, profundo, o romance
mostra como somos e como podemos, tantas vezes, não ter controle sobre nossa própria
história. Record, 412 páginas, mdireto@record.com.br.
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