sexta-feira, 12 de outubro de 2012


Jaime Cimenti

Envolvente sátira sobre o homem moderno

O romance A terrível intimidade de Maxwell Sim, do escritor inglês Jonathan Coe, é, antes de tudo, uma parábola perfeita sobre a vida moderna, uma sátira envolvente sobre um homem dos dias de hoje, imerso em redes sociais mas, paradoxalmente, cada vez mais solitário. Jonathan Coe nasceu em Birmingham, em 1961, e A terrível intimidade de Maxwell é seu nono romance.

No Brasil, o autor publicou, pela Record, O legado da família Winshow, A casa do sono, O círculo fechado e A chuva antes de cair. Maxwell tem um emprego nada animador em uma loja de departamentos e conta com 74 amigos no Facebook, apesar de ser incapaz de manter uma conversa de dois minutos em um restaurante. Desde que a esposa o deixou, há seis meses, ele não vê a filha.

Seu pai nunca lhe deu afeto e guarda segredos numa pasta. Desde o início da narrativa, fica claro que Maxwell é um homem absolutamente comum, extremamente solitário e que está, sem a menor dúvida, no fundo do poço. Tudo parecia congelado até o protagonista receber, de um velho amigo, uma proposta de trabalho para divulgar uma nova marca de escovas de dentes ecologicamente corretas.

Para cumprir a tarefa, ele terá de viajar de carro ao Norte das ilhas britânicas e, nessa jornada, é que sua verdadeira história será revelada. Terá Maxwell condições para tanto? Pelo caminho ele encontrará a ex-mulher e a filha, amigos antigos e possíveis namoradas. A jornada é insegura e, aqui e ali, o autor do romance evoca Donald Crowhurst, navegador solitário que sonhou dar a volta ao mundo e acabou consumido pela loucura.

Por pouco Max não chega a tal ponto, mas o fato é que, em determinados momentos, o único contato com o mundo exterior é a voz do GPS do carro. De tão comum, Max acaba por soar sempre engraçado, e a narrativa, em tons de sátira, mostra com habilidade a solidão contemporânea.

As relações de outrora não fazem mais sentido, e a estagnação da sociedade inglesa é mostrada em cada cidade visitada por Sim. Cada cidade é o microcosmo de um país em crise, e Jonathan Coe, com talento, primeiro desconstrói um homem comum, para, depois, reconstruí-lo.

Maxwell jamais poderia imaginar que passaria por uma tamanha espiral de autoconhecimento e loucura. Divertido e, ao mesmo tempo, profundo, o romance mostra como somos e como podemos, tantas vezes, não ter controle sobre nossa própria história. Record, 412 páginas, mdireto@record.com.br.

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