24
de outubro de 2012 | N° 17232
DIANA CORSO
Desta
vez, não há bruxas, ogros, príncipes malvados, ajudantes mágicos, animais
falantes, fadas madrinhas, malvados. Mesmo assim, o clima de Moonrise Kingdom (de
Wes Anderson, 2012) é de conto de fadas. Na falta de personagens fantásticos, há
muita aventura: perseguições, lutas e perigos, mas o verdadeiro combate é contra
os ressentimentos e frustrações que impedem as pessoas de se amarem e
conectarem.
Os
heróis são duas crianças apaixonadas. É um amor ainda alheio ao erotismo, o que
os move é a mútua compreensão contrastante com a surdez dos que os rodeiam. Os
adultos evidentemente não entendem, muito menos aceitam, o caso da menina
revoltada com o escoteiro órfão e enjeitado, ambos com 12 anos.
Por
isso, fogem numa jornada pela ilha onde vivem, arrastando atrás de si um exército
de escoteiros, a família da menina, o policial secretamente apaixonado pela mãe
dela, a assistente social que quer internar o garoto.
O
casal leva consigo o que considera essencial: ele, sua parafernália de
escoteiro, garantindo virilmente bem-estar e orientação; ela, uma mala de
livros de fantasia e uma vitrola com discos, que sabe usar habilmente para
tranquilizá-los e animá-los sempre que necessário.
Nas
crianças, admiramos a autenticidade, são espíritos ainda frescos, a vida só lhes
oferece possibilidades. É como se o crescimento nos condenasse a uma estreiteza
hipócrita, o que não deixa de ser verdade.
A
trama do filme aposta nessa idealização da infância, mas também nesse amor de
principiantes. O amor costuma ser um dos nossos maiores investimentos, é nele
que depositamos as maiores expectativas de plenitude e satisfação, as ilusões
mais vãs. Do amor, só queremos tudo.
Não
levamos fé em muita coisa neste tempo sem utopias. Afogados em desesperança,
tememos como nunca a solidão, esfinge que faz perguntas irrespondíveis.
Apaixonar-se
ou refugiar-se em sonhos, como fazem os artistas e as crianças quando brincam,
são alívios fundamentais. Síntese de tudo isso, ao fugir em nome do seu amor,
esses protagonistas infantis carregam todos nós em direção aos tesouros
afetivos que ainda conservamos.
Como
já ocorrera em outros filmes de Anderson (Tenenbaums, Sr. Raposo, Darjeeling),
os adultos são muito neuróticos, mas guardam certa graça com suas
excentricidades. São atrapalhados, mas esperançosos, e nunca desistem uns dos
outros.
Esta,
que considero sua obra-prima, não podia ser mais otimista nesse sentido. Concordo
com ele: somos bem maluquinhos, mas, se conseguirmos nos conectar, tudo pode
acabar num final feliz. Mesmo que não seja para sempre.
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