21
de outubro de 2012 | N° 17229O CÓDIGO DAVID |
DAVID
COIMBRA
Quando o homem
amadurece
Ohomem
amadurece até os 12 anos de idade. Aí para. Com 12 anos ele é o que será por
toda a vida. Claro, haverá algumas transformações, sua barriga aumentará e a
quantidade de seus fios de cabelo diminuirá, talvez ele aprenda um pouco com a
experiência (em geral, não), pode ser que se torne uma pessoa melhor ou pior,
mas a essência estará lá. O espírito é o mesmo. Se ele é leal, alegre e amigo
com 12 anos, o será com 60. Se ele é belicoso, irritadiço e implicante, também
seguirá assim até o dia em que possa andar de ônibus de graça. Um homem é uma
criatura simples. É um menino de 12 anos de idade.
A
mulher, não. A mulher amadurece sempre. Vai mudando com a passagem do tempo,
vai compreendendo o que quer da vida e o que a vida pode lhe oferecer. Ela sabe
das coisas.
O
fim dos meus 12 anos
Eu
tive 12 anos de idade até completar 50, meses atrás. Então, fui abatido pela
crise da meia-idade, e essa crise me abateu porque vi-me tomado pela
consciência de que entre a meia e a terceira idade não existem as etapas amenas
da primeira e da segunda idade. Não: passa-se direto da meia para a terceira.
Uma injustiça.
A
Bela da Tarde
Hoje
em dia, enfrentamos essas crises porque temos menos rituais de passagem. Antes,
as fases da vida ficavam bem delineadas: o fim da infância, a adolescência, a
idade adulta, para tudo havia um marco – o menino deixava de usar calças
curtas, a menina debutava, o rapaz começava a trabalhar e depois casava. Havia
até marcos politicamente incorretos, mas sempre marcos, como o primeiro cigarro
que o pai dava ao filho e, em alguns lugares dos Estados Unidos, a primeira
arma de fogo.
Hoje,
não. Hoje, há homens de 40 anos de idade que ainda moram com os pais. Assim, as
crises nos aguardam em idades cheias. Já aos 49 eu olhava para os 50 e estremecia.
Bem.
Isso tudo tem relação com Catherine Deneuve, A Bela da Tarde. Catherine Deneuve
foi, e é, uma das mulheres mais lindas do mundo. Um dia, um repórter
perguntou-lhe se havia uma parte do corpo dela com a qual estivesse
insatisfeita. Catherine, com a classe de hábito, tascou:
–
Minha orelha direita.
Linda
e inteligente.
Pois
nesta segunda-feira a orelha direita de Catherine, e todo o resto que está
grudado nela, completam 69 anos de idade. Ou seja: em um ano, Catherine passará
outra fase importante da existência e ingressará na tal terceira idade
definitiva e inapelavelmente. Um marco para ela e para nós que amamos A Bela da
Tarde.
Na
foto: Catherine Deneuve em seus tempos de horário nobre como A Bela da Tarde
Olhar
para Jane
Outra
mulher que foi lindíssima na juventude, Jane Fonda, um dia falou sobre a
trepidante chegada da terceira idade. O repórter que a entrevistava fez-lhe um
elogio, disse que ela continuava linda. Jane balançou a cabeça e desdenhou:
–
Não, não... Eu sei o que é ser olhada com desejo pelos homens. Eu conheço o
olhar deles. E sei quando não há mais desejo neste olhar.
Como
Catherine, linda e inteligente. Decerto enfrenta bem a terceira idade.
AQUELE
LUGAR: Os italianos da navona
Você
já deve ter ido à Piazza Navona, em Roma. É um dos pontos turísticos mais
visitados do mundo, um lugar “manjado”, digamos assim, até porque lá está
engastado o belíssimo e quase suntuoso palácio da embaixada brasileira.
Certo.
Então,
não vou falar das belezas e da história da Piazza Navona, que você conhece bem.
Vou sugerir que você faça o que fiz na primeira vez em que estive na Itália. Eu
estava sozinho e, num sábado de manhã, sentei-me à mesa de um café na Piazza
Navona, pedi um cappuccino cremoso e fiquei fazendo o que a minha avó definiria
como “olhar o movimento”.
Fiquei
observando aqueles italianos e italianas circulando por ali. As italianas são
lindas, isso todo mundo sabe graças a Sophia Loren, Claudia Cardinale, Monica
Bellucci e Ornella Muti. E os italianos... Bem, os italianos são americanos
frustrados. Veja-os se exibindo na Piazza Navona. Vestem jeans, mascam chiclé,
comportam-se como americanos de filme. Tudo o que queriam era falar inglês em
Hollywood. Os quadrinhos de Tex, os filmes de Leone e O Poderoso Chefão não
estão aí por acaso.
O
QUE LER: Tex Willer, o ranger
Fiquei
re-al-men-te surpreso quando li o nome de Kit Carson naquele livro. Kit Carson,
man! Eu era guri, tinha, sei lá, uns 12 anos de idade, e conhecia Kit Carson
dos gibis do Tex. Sim, rapaz, Kit Carson, o “Camelo Velho”, o “Cabelos de
Prata”, ele era o melhor amigo de Tex Willer, o mais famoso ranger do Oeste.
Estava
sempre resmungando, dizendo “cáspite!”, e, quando chegava a um povoado, a
primeira coisa que fazia era procurar um saloon, pedir um uísque “para tirar a
poeira da garganta” e, logo depois, um bife com quatro dedos de altura, coberto
por uma montanha de batatas fritas. Isso nos quadrinhos. E agora eu descobria
que Kit Carson existiu de verdade e que foi um herói do Oeste Selvagem e que
trocou tiros reais com os índios. A partir de então, passei a pesquisar a
respeito, li vários livros sobre a conquista do Oeste, e foi muito divertido.
Não
lembro qual foi o livro que li naquele dia, em outra oportunidade vou sugerir
alguns sobre o Velho Oeste. Por ora, vou recomendar mesmo a leitura amena das
revistinhas do Tex Willer, de autoria de dois italianos, Bonelli e Gallepini, o
que prova que a Itália ama os Estados Unidos.
Outra
prova cabal e irrefutável são os filmes de Sergio Leone. O Bom, o Mau e o Feio,
Era uma Vez no Oeste e Era uma Vez na América são obras-primas que, se você
ainda não viu, terá de ver ainda hoje. Corra para a locadora! Corra para a
tabacaria!
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