09
de julho de 2013 | N° 17486
ARTIGOS
- Sebastião Ventura Pereira da Paixão Jr.*
O plebiscito e o povo
gigolô
Quando
se pensa que a promiscuidade política chegou ao limite do tolerável, o cidadão
é surpreendido por uma ousadia cada vez mais pornográfica. Sem qualquer
constrangimento em tratar o povo como tolo, o Planalto, como resposta aos
incandescentes protestos populares contra a imoralidade pública, resolveu tirar
um coelho da cartola e lançar uma proposta mágica: vamos fazer um plebiscito!
O
problema é que, na cartola do governo, ao invés de coelhos, há ratos. E, assim,
ao invés de limpeza, é provável que a sujeira espalhe, ainda mais, a
leptospirose demagógica nas já combalidas veias da democracia brasileira.
Pois
bem. Entre as soluções encantadas imaginadas pelos arcanjos do governo, está o
festejado financiamento público de campanhas. Sem cortinas, a proposta
governamental quer transformar o povo em gigolô da política.
Sim,
outra não poderá ser a conclusão. Insatisfeitos em fazer do cidadão um fantoche
da democracia, que vê o governo consumir quase 40% do PIB nacional e sequer
proporcionar saúde, educação e segurança, agora estão dispostos a refinar a
traficância política: querem que todos e cada um nós banquemos a suruba do
poder. É impressionante, mas os fatos não deixam mentir, embora a mentira seja
a principal arma dos inquilinos palacianos.
Naturalmente,
é imperioso reconhecer que o poder do dinheiro invadiu a quadra política,
tratando as eleições como se fosse um show de um bordel de quinta categoria.
Aqui, chegamos ao ponto: o financiamento público resolverá a questão? Ora, é
claro que não. Objetivamente, o problema do poder econômico nas eleições apenas
se resolverá com uma reta e eficaz medida: verdade material nas prestações de
contas eleitorais.
Veja-se,
aliás, que o art. 17, III, da Constituição Federal determina a “prestação de
contas à Justiça Eleitoral” como preceito obrigatório para o regular
funcionamento dos partidos políticos. Logo, a norma constitucional indica que a
prestação de contas há de ser séria e fidedigna às receitas e despesas da
campanha eleitoral e, não, uma farsa como o “caixa 2” tão marcante no
famigerado e criminoso mensalão.
Portanto,
o problema não diz respeito à modalidade de financiamento, mas à falta de
seriedade nas contas que são prestadas à Justiça Eleitoral. Além de verdade na
contabilidade dos partidos, temos que dar um próximo passo: fixar um teto
orçamentário para cada cargo eletivo.
Com
o teto legal fixado somado a uma digna prestação de contas, saberemos quem e
como financiou a campanha, tornando sem efeito o fantasioso argumento do
financiamento público. Enfim, existem saídas hábeis e moralmente elevadas. E
quanto a você: concorda comigo ou quer ser um gigolô político?
*ADVOGADO
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