21 de julho de 2013 | N°
17498
O CÓDIGO DAVID | DAVID
COIMBRA
QUE BICHO É A UNIQUA?
Os Backyardigans são os meus preferidos dentre todos
os desenhos de criança pequena. Aprendi a gostar com o meu filho. Mas agora ele
já está na franja dos seis anos de idade e não vê mais os Backys, vê os
Imaginadores.
Os Imaginadores, francamente. Os
Backys são muito melhores, embora algo neles me inquiete: jamais descobri que
bicho é a Uniqua. O Pablo, de longe o meu predileto, é um pinguim, a Tasha é
uma hipopótama, o Tyrone é um alce e o Austin é um canguru. Certo. Mas e a
Uniqua? Já refleti muito a respeito, consultei meu filho e ele também não sabe.
Creio que nunca desvendarei esse mistério. Que animal será a Uniqua?
Estava tecendo ponderações com
meu filho sobre esta questão e, a folhas tantas, observei que o caso da Uniqua
me lembrava o Mancha Negra, um dos grandes enigmas da minha infância.
– Afinal – discursava eu, dedo em
riste – quem é o Mancha Negra? Alguém, alguma vez, viu o seu rosto? Se viu,
responda: é um bicho? É gente? Porque o Man...
– Não conheço o Mancha Negra –
disse o meu filho.
Olhei para ele, espantado. Como
assim, não conhece o Mancha Negra???
Ele não conhecia.
Nem o Mancha Negra, nem a Madame
Min, nem a Maga Patalógika, nem o Patacôncio. Comecei a investigar. Bibo Pai e
Bóbi Filho? Leão da Montanha? Os Cavaleiros da Arábia? Pepe Legal? Meu filho
não conhecia nenhum deles.
Mas que coisa. Insisti: e
Shazzan, o gênio que protege Chuck e sua irmã Nancy, os dois passeando pela
Arábia num camelo voador e dispondo de um utilíssimo manto da invisibilidade?
Shazzan, o gênio que ri com aquela sua risada grave de gênio: “Hô, hô, hô, meus
amiguinhos!” Shazzan ele conhecia, não? Não, o Bernardo nunca foi apresentado
ao Shazzan.
Mightor? Não.
O Coelho Ricochete? Não.
Olho Vivo e Faro Fino? Não, não.
E Matraca Trica e Fofoquinha?
Tinha duas gurias, lá no IAPI, que apelidamos de Matraca Trica e Fofoquinha,
faladeiras que eram. Também apelidamos um guardinha de Zé Bolha e um
ponta-direita muito rápido de Juca Bala. Ah, um outro amigo nosso, um
magricela, nós chamávamos de Formiga Atômica, e o Milton, quando queríamos
irritá-lo, dizíamos que ele era o Milton Monstro, e, é claro, tem o Maguila, o
Gorila, o boxeador famoso aquele é chamado de Maguila por causa do desenho,
e... Mas ele não fazia a menor ideia de quem eram todos esses personagens e nem
quem é o boxeador de carne, osso e músculos.
Dei uma olhada na programação da TV. Onde estão os
desenhos de Hanna e Barbera, aqueles dois gênios que nós jurávamos que era uma
mulher, a Dona Ana Barbera? Onde estão?
Em desespero de causa, recitei
para o meu filho a abertura de Os Herculoides. Impostei a voz:
– Igor, o gigante de pedra! – e
imitei o rugido feroz do Igor: – GROUARRRRR!
– Tundro, o tremendo! – e fiz o
barulho do Tundro disparando suas pedras de energia: – Tzin! Tzin!
– Zok, o dragão alado! –
Reproduzi o som que faz um dragão alado: – Inhé! Inhé!
– Com Glip e Glup, criaturas
capazes de assumir múltiplas formas! Blublublur! Blublublur!
Ele apreciou minha performance,
mas jurou não saber quem eram os Herculoides. Tomei-o pelos ombros.
– E o Dom Pixote??? – clamei. –
Todos conhecem o Dom Pixote! – E cantei a musiquinha do Dom Pixote: – Ó,
querida! Ó, querida! Ó, queriiiiiida, Clementinaaa...
Mas não. Nada de Dom Pixote.
Desanimado, abatido, derrotado,
suspirei, olhei gravemente em seus olhos negros e falei, com estremecimento na
voz:
– Me diga uma coisa meu filho...
Fiz uma pausa. Ele me encarou,
curioso. Prossegui:
– Preciso saber. Zé Colmeia e
Catatau. Esses dois tu e todos os teus amiguinhos conhecem, certo? Certo???
Ele hesitou. Enchi-me de
esperança. Então, baixou sua cabecinha, sabendo que me decepcionaria, e
sentenciou:
– Não, papai. Não sei quem são
esses dois.
Nem Zé Colmeia! Nem Catatau! A
distância invencível entre as gerações!
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