sábado, 20 de julho de 2013


21 de julho de 2013 | N° 17498
O CÓDIGO DAVID | DAVID COIMBRA

QUE BICHO É A UNIQUA?

Os Backyardigans são os meus preferidos dentre todos os desenhos de criança pequena. Aprendi a gostar com o meu filho. Mas agora ele já está na franja dos seis anos de idade e não vê mais os Backys, vê os Imaginadores.

Os Imaginadores, francamente. Os Backys são muito melhores, embora algo neles me inquiete: jamais descobri que bicho é a Uniqua. O Pablo, de longe o meu predileto, é um pinguim, a Tasha é uma hipopótama, o Tyrone é um alce e o Austin é um canguru. Certo. Mas e a Uniqua? Já refleti muito a respeito, consultei meu filho e ele também não sabe. Creio que nunca desvendarei esse mistério. Que animal será a Uniqua?

Estava tecendo ponderações com meu filho sobre esta questão e, a folhas tantas, observei que o caso da Uniqua me lembrava o Mancha Negra, um dos grandes enigmas da minha infância.

– Afinal – discursava eu, dedo em riste – quem é o Mancha Negra? Alguém, alguma vez, viu o seu rosto? Se viu, responda: é um bicho? É gente? Porque o Man...

– Não conheço o Mancha Negra – disse o meu filho.

Olhei para ele, espantado. Como assim, não conhece o Mancha Negra???

Ele não conhecia.

Nem o Mancha Negra, nem a Madame Min, nem a Maga Patalógika, nem o Patacôncio. Comecei a investigar. Bibo Pai e Bóbi Filho? Leão da Montanha? Os Cavaleiros da Arábia? Pepe Legal? Meu filho não conhecia nenhum deles.

Mas que coisa. Insisti: e Shazzan, o gênio que protege Chuck e sua irmã Nancy, os dois passeando pela Arábia num camelo voador e dispondo de um utilíssimo manto da invisibilidade? Shazzan, o gênio que ri com aquela sua risada grave de gênio: “Hô, hô, hô, meus amiguinhos!” Shazzan ele conhecia, não? Não, o Bernardo nunca foi apresentado ao Shazzan.

Mightor? Não.

O Coelho Ricochete? Não.

Olho Vivo e Faro Fino? Não, não.

E Matraca Trica e Fofoquinha? Tinha duas gurias, lá no IAPI, que apelidamos de Matraca Trica e Fofoquinha, faladeiras que eram. Também apelidamos um guardinha de Zé Bolha e um ponta-direita muito rápido de Juca Bala. Ah, um outro amigo nosso, um magricela, nós chamávamos de Formiga Atômica, e o Milton, quando queríamos irritá-lo, dizíamos que ele era o Milton Monstro, e, é claro, tem o Maguila, o Gorila, o boxeador famoso aquele é chamado de Maguila por causa do desenho, e... Mas ele não fazia a menor ideia de quem eram todos esses personagens e nem quem é o boxeador de carne, osso e músculos.

Dei uma olhada na programação da TV. Onde estão os desenhos de Hanna e Barbera, aqueles dois gênios que nós jurávamos que era uma mulher, a Dona Ana Barbera? Onde estão?

Em desespero de causa, recitei para o meu filho a abertura de Os Herculoides. Impostei a voz:

– Igor, o gigante de pedra! – e imitei o rugido feroz do Igor: – GROUARRRRR!

– Tundro, o tremendo! – e fiz o barulho do Tundro disparando suas pedras de energia: – Tzin! Tzin!

– Zok, o dragão alado! – Reproduzi o som que faz um dragão alado: – Inhé! Inhé!

– Com Glip e Glup, criaturas capazes de assumir múltiplas formas! Blublublur! Blublublur!

Ele apreciou minha performance, mas jurou não saber quem eram os Herculoides. Tomei-o pelos ombros.

– E o Dom Pixote??? – clamei. – Todos conhecem o Dom Pixote! – E cantei a musiquinha do Dom Pixote: – Ó, querida! Ó, querida! Ó, queriiiiiida, Clementinaaa...

Mas não. Nada de Dom Pixote.

Desanimado, abatido, derrotado, suspirei, olhei gravemente em seus olhos negros e falei, com estremecimento na voz:

– Me diga uma coisa meu filho...

Fiz uma pausa. Ele me encarou, curioso. Prossegui:

– Preciso saber. Zé Colmeia e Catatau. Esses dois tu e todos os teus amiguinhos conhecem, certo? Certo???

Ele hesitou. Enchi-me de esperança. Então, baixou sua cabecinha, sabendo que me decepcionaria, e sentenciou:

– Não, papai. Não sei quem são esses dois.


Nem Zé Colmeia! Nem Catatau! A distância invencível entre as gerações!

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