22
de julho de 2013 | N° 17499
ARTIGOS
- Cláudio Brito*
Judicialização da
vida
Como
nunca, nossas vidas são resolvidas na Justiça e dependem dela. Pense um pouco e
confirme. Ainda que nunca tenha havido uma demanda judicial em sua existência.
O preço do ônibus tem fixação por liminar, o ir e vir tem dependido de ordem de
um juiz ou tribunal, nossas perdas e ganhos ocorrem com a chancela da toga, ou
não serão verdades que impactem nosso viver.
É
com a marca da controvérsia que se move o Judiciário. Não existiria para outra
finalidade. Suas justificativas existenciais e conceituais têm o conflito na
raiz. É para dirimir divergências que os juristas existem, ainda que possam
lutar incansavelmente por ideias em confronto.
O
exame imparcial das provas e argumentos faz o cotidiano do magistrado, que,
necessariamente, ao final, reconhecerá direitos de uns, negando-os a outros,
atribuindo a cada um o que lhe couber, ou tratando desigualmente os desiguais.
Muitas vezes, por isso, é cercado de incompreensão. Faz tempo que há quem
experimente alguma inquietação ao buscar um conceito de Justiça. Ruy Barbosa
ensinou há um século:
“A
regra da igualdade não consiste senão em aquinhoar desigualmente aos desiguais,
na medida em que se desigualam. Nesta desigualdade social, proporcionada à
desigualdade natural, é que se acha a verdadeira lei da igualdade. Tratar com
desigualdade a iguais, ou a desiguais com igualdade, seria desigualdade
flagrante, e não igualdade real.”
Não
é um jogo de palavras.
Faço
releitura frequente da lição do velho mestre de todos os advogados. Para não esquecer
o que deve ser o agir de quem faz a Justiça. Será dela que virão decisões e
comandos definitivos para todas as leis, pois é só dela o poder de
interpretá-las para que sejam eficazes. Melhor que isso venha pela via da
conciliação.
Como
ocorreu agora entre nós. Themis, a deusa grega da Justiça, com certeza tem
inspirado as mulheres juristas. A atuação conciliatória e orientadora de uma
juíza e de uma promotora na desocupação da Câmara Municipal de Porto Alegre e
de uma desembargadora do TRT e uma procuradora do Trabalho na retomada dos
serviços de duas empresas de ônibus urbanos foram a prova de que conciliar
agiliza e melhora a realização da Justiça, cada vez mais o espaço decisivo de
nossas vidas.
*JORNALISTA
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