10
de julho de 2013 | N° 17487
EDITORIAIS
ZH
MAIS GESTÃO
É inegável
a disposição do governo federal de responder à crônica desigualdade na
distribuição geográfica de pessoal na área médica por meio de uma medida provisória
e vários editais regulando o programa Mais Médicos, que tem por objetivo
ampliar o número de profissionais de saúde em municípios do interior e em
periferias das grandes cidades.
Mas
as soluções apresentadas, em sua maioria, apenas tentam encobrir os verdadeiros
problemas da saúde pública no país: incompetência administrativa, desperdício
de recursos, burocracia, corrupção e leniência gerencial, especialmente na
fiscalização de profissionais que descumprem horários e atribuições. Em vez de
mais médicos, o que o país precisa é de mais (e melhor) gestão.
A
Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que uma nação disponha de pelo
menos um médico para cada mil habitantes a fim de atender a população de forma
adequada. Em todos os levantamentos disponíveis, a relação entre esses termos é
superior no caso brasileiro: as Estatísticas Mundiais Sanitárias de 2013
indicam a existência de 1,7 médico por mil habitantes, e a Demografia Médica do
Brasil, 2 médicos por mil habitantes. A maioria dos médicos, porém, está concentrada
nas regiões mais desenvolvidas do país, o Sudeste e o Sul.
Comparativamente,
o Rio Grande do Sul conta com 2,37 médicos por mil habitantes, enquanto o
Maranhão dispõe de 0,71 por mil habitantes. É de conhecimento geral que os médicos
evitam trabalhar em regiões mais pobres em razão da precariedade das condições
de trabalho e de moradia.
O
governo agora acena com medidas concretas: abertura de 10 mil vagas, bolsa de
R$ 10 mil custeada pelo Ministério da Saúde, moradia e alimentação por conta
das prefeituras. Cabe notar que, segundo o Instituto de Pesquisas Econômicas
Aplicadas (Ipea), a partir de dados do Censo Demográfico 2010, a medicina é a
profissão melhor remunerada entre 48 carreiras universitárias pesquisadas, com
um salário médio mensal de R$ 8.459,45.
O
governo federal acrescenta pelo menos duas imposições polêmicas à medida: contratação
de médicos estrangeiros para os postos rejeitados por brasileiros e extensão do
curso de medicina em dois anos, a partir de 2015, para que os estudantes façam
um estágio obrigatório no SUS. A inspiração declarada das novas medidas é a política
em vigor na Grã-Bretanha, onde todo recém-formado em medicina é obrigado a
cumprir dois anos de treinamento no sistema público de saúde.
As
entidades representativas da classe médica se opõem frontalmente ao pacote,
como haviam feito anteriormente em relação à proposta de contratação de médicos
cubanos. Apontam como solução para o impasse mais investimentos em saúde e criação
de uma carreira de Estado para os médicos que tiverem de atuar em locais de difícil
acesso. Independentemente da avaliação de mérito, é notório que as soluções
para matéria tão sensível não poderão ser impostas de forma vertical aos
principais envolvidos.
O
que se espera do governo, das entidades representativas dos médicos e dos
demais envolvidos é que, por meio do diálogo e da negociação, cheguem a uma
proposta capaz de atender aos interesses dos maiores interessados, ou seja, o
conjunto da população brasileira.
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