18 de julho de 2013 | N°
17495
EDITORIAIS
A FILA DO SOFRIMENTO
Basta uma visita ao setor de
emergência dos hospitais (como vem fazendo a série Repórter na Saúde, publicada
desde domingo por Zero Hora) para se perceber o quanto o governo e as entidades
médicas, envolvidos num debate sobre importação de profissionais ou ampliação
dos cursos de Medicina, estão distantes da apresentação de soluções reais para
os problemas imediatos vividos pelo setor. Só nesta semana, tivemos dois
exemplos.
Na terça-feira, a reportagem
constatou que apenas um pediatra atendia todos os usuários do Sistema Único de
Saúde que procuravam o Hospital Dom João Becker, o principal de Gravataí.
Ontem, a série focalizou o drama da estudante e beneficiária de plano privado
de saúde Juliane Lobato Flores.
Com suspeita de meningite, ela
amargou cinco horas na espera do Hospital Mãe de Deus, na Capital, entre
segunda e terça-feira, até receber atendimento. Detalhe: Juliane é estudante de
Medicina na Universidade Católica de Pelotas. Ao ser liberada, ela afirmou que
todo estudante de Medicina deveria passar por uma emergência para saber como lidar
com os pacientes.
O caso de Juliane é uma prova de
que ficaram para trás os tempos em que atendimento na rede privada era garantia
de agilidade em comparação com o disponível nas unidades do Sistema Único de
Saúde (SUS). Esse quadro, como assinala o Hospital Mãe de Deus na reportagem de
ZH, decorre do aumento substancial do número de beneficiários de planos de
assistência médica com ou sem odontologia nos últimos anos. Segundo a Agência
Nacional de Saúde Suplementar, vinculada ao Ministério da Saúde, essa cifra
saltou de 32 milhões em 2003 para 47,9 milhões em 2012 – um incremento de 33%
em 10 anos.
Esses números indicam que, no
final do ano passado, 24,7% dos brasileiros já contavam com algum tipo de
cobertura por plano privado de saúde. Em três Estados da federação – São Paulo,
Rio de Janeiro e Espírito Santo –, esse percentual já era superior a 30%. Ainda
segundo o Mãe de Deus, em cidades como Porto Alegre os beneficiários de planos
privados já superam os 50%.
Os problemas enfrentados pelos
que contam com plano privado de saúde evidenciam-se nos números de reclamações
contra as grandes operadoras. De junho de 2011 a maio deste ano, as queixas de
usuários cresceram em quase 100%.
Isso mostra que, como em todas as esferas do
varejo e dos serviços, os brasileiros que aderem a planos de saúde também estão
ciosos de seus direitos e querem atendimento de qualidade. Tudo isso deveria
servir de alerta para autoridades e profissionais que porventura flertem com a
ideia de que será possível esperar por soluções para daqui a dois anos.
Pacientes, sejam beneficiários de
convênio ou usuários do sistema único, precisam de atendimento para já, para
hoje. Essa é a essência contida no conceito de atendimento médico de urgência e
de emergência. E as necessidades não se concentram entre os que vivem longe das
metrópoles ou nas periferias das grandes cidades. Sem gestão adequada, nem o
sistema universal de saúde nem os planos complementares prestarão o serviço de
que os usuários necessitam.
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