fernando
rodrigues
17/07/2013
- 03h30
O mundo de
Lula
BRASÍLIA
- Luiz Inácio Lula da Silva escreveu um artigo para o jornal "The New York
Times" a respeito da onda de protestos de rua pelo Brasil.
O
ex-presidente usa o texto para duas finalidades. Primeiro, faz um autoelogio
sobre seu governo e a ampliação da sociedade de consumo. Depois, aponta razões
da insatisfação dos brasileiros. Aí, claro, o responsável é um sujeito oculto.
O PT
está no comando do país há dez anos e meio, com Lula e Dilma Rousseff. É mérito
petista o aumento do mercado consumidor. Mas está nesse mesmo escaninho a
responsabilidade pelo que não foi realizado.
"Eles
[os manifestantes] querem uma melhoria na qualidade dos serviços
públicos", escreve Lula. É verdade. E prossegue: "As preocupações dos
jovens não são apenas materiais (...) Acima de tudo, eles demandam instituições
políticas que sejam mais limpas e transparentes, sem as distorções do sistema
político-eleitoral anacrônico brasileiro, que recentemente se mostrou incapaz
de conduzir uma reforma".
Como
assim? O "sistema" se mostrou incapaz? De qual sistema Lula está
falando? O ex-presidente escreve como se não tivesse se esbaldado por oito anos
em abraços com tudo o que ele próprio rejeitara no passado, inclusive xingando
em público --como Fernando Collor e José Sarney.
Chega
a ser comovente o esforço de Lula para se aproximar dos manifestantes que foram
às ruas. Ele prega a renovação dos partidos, inclusive do PT. A proposta é
curiosa.
Lula
manda no PT. O que foi realizado para modernizar o petismo nos últimos dez
anos? Nada, exceto distribuir cargos públicos a filiados.
"Enquanto
a sociedade entrou na era digital, a política permaneceu analógica",
escreve Lula. Já ele próprio entrou numa era de distanciamento. Até porque, se
desejasse, poderia ter ido também à rua dialogar com os indignados durante o
mês de junho. Mas o petista prefere escrever artigos para o "New York
Times".
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