segunda-feira, 22 de julho de 2013


22 de julho de 2013 | N° 17499
LETICIA WIERZCHOWSKI

A alegria da escrita

Escrever um romance é abrir uma porta para o outro lado da vida, escrever um romance é a possibilidade de, na ficção, desconstruir, recriar, entender, relembrar e até mesmo desprezar a vida real. Existem autores que só escrevem sob pressão, autores que se arrastam até as suas mesas, extraindo as palavras da própria carne sem anestesia.

Alguns autores só começam um livro quando ele está pronto, inteirinho dentro das suas mentes, outros escrevem como quem se aventura, desfiando a história página por página. Existem romances de todos os tipos, assim também é com os autores.

Eu gosto muito de um poema de Wislawa Szymborska, prêmio Nobel de Literatura – A Alegria da Escrita – que diz assim: “... Então existe um mundo assim, sobre o qual exerce um destino independente? Tempo, que eu teço com uma corrente de sinais? Existência que, a meu comando, não terá fim? A alegria da escrita... A Vingança de uma mão mortal”.

Ah, que poder tem o autor sobre os seus personagens, e todo o sofrimento, todas as dúvidas e todo o medo se desvanece quando, tal um corredor numa maratona, chegamos ao final da nossa história. Eu penso como Wislawa: antes do livro na gráfica, do leitor e do mercado editorial, escrever é uma alegria que eu tenho nesta minha vida. Ora, Wislawa, que faleceu no ano passado, era uma poeta reservada, com um olhar tão arguto sobre a vida que chegava a beirar o cinismo.

Em seu discurso em Estocolmo, ela disse: “... ainda não faz tanto tempo, os poetas se esforçavam para nos escandalizar com suas roupas extravagantes e seu comportamento excêntrico. Tudo isso era só para encher os olhos do público. Sempre chegava a hora em que os poetas tinham de fechar a porta atrás de si, despir suas capas, seus penduricalhos e outras parafernálias poéticas e enfrentar – em silêncio, com paciência, à espera de si mesmos – a folha de papel ainda em branco. Pois, no final, é isso o que de fato conta”. Assim também é para nós, escritores.


Um livro sempre nasce de um longo encontro com nós mesmos. E depois, como se um ciclo se encerrasse e outro naturalmente começasse, o livro ganha a rua, ganha o mundo e os seus leitores, e outros encontros acontecem, experiências tão múltiplas e diversas que, se um dia pudessem ser compiladas, deixariam o atordoado autor de cabelos em pé. Sal, meu novo romance, chegou às livrarias há apenas três dias. Que um pouco da alegria, do estupor e da surpresa que eu tive ao escrevê-lo, alcance os leitores, é tudo o que eu desejo agora.

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