RUTH
DE AQUINO
03/07/2013
13h59
Lula versus
Dilma
Por
que o criador evitou apoiar a criatura justamente no auge da crise? Por que ficou
mudo?
Há
uma pedra barbuda no escarpim de Dilma Rousseff, furando a meia-calça. Lula é
seu nome. O maior líder popular do Brasil sumiu, escafedeu-se, silenciou sua
voz rouca, justamente nas semanas em que o povo acordou da letargia para
protestar contra uma herança maldita. Por que se calou o grilo falante em todas
as celebrações de conquistas no país e no exterior? Só aparece na boa?
Por
que Lula finge que nada é com ele? Por que o criador evitou apoiar a criatura
no auge da crise? Por que ficou mudo e invisível, quando a turba se insurgiu, e
brasileiros de todas as idades passaram a falar, gritar, discutir e analisar,
mesmo aos tropeços e sob o risco de errar?
O
Lula que se metamorfoseou em oito anos de mandato e rasgou a bandeira da ética
na política... O Lula que suspendeu suas férias para defender o ex-presidente
do Senado sob o argumento de que “Sarney não pode ser julgado como homem
comum”... O Lula que se locupletou com o corrupto-mor Maluf para eleger Haddad,
“o novo”... O Lula que se uniu “aos picaretas do Congresso”... O Lula que quis
reeditar a CPMF, uma taxa que antes chamava de extorsão... Esse Lula não põe
seu bloco na rua numa hora dessas?
Por
lealdade, deveria ter dado o braço a Dilma. Afinal, ela chefiava sua Casa Civil
e só concordou em disputar a Presidência porque, sem Dirceu nem Palocci, Lula
impôs seu nome.
A
técnica Dilma, a gerentona, a ex-guerrilheira, talvez um dia escreva um livro
sobre sua relação com Lula. Por mais responsável que seja, como presidente,
pela explosão da insatisfação no Brasil, Dilma sabe bem quem a colocou nessa
roubada de “mãe do PAC”. Sabe que recebeu uma herança de corrupção, impunidade,
abuso de poder, desvio de verba pública, falta de representatividade dos
partidos, péssima qualidade de serviços essenciais, impostos absurdos, altos
salários e mordomias dos burocratas dos Três Poderes, cinismo e oportunismo de
governadores e prefeitos. O Brasil já era assim quando ela foi eleita.
O
Lula presidente se lamentava da “herança maldita” de Fernando Henrique Cardoso.
Dilma não pode dizer nada nem parecido. Lula teve oito anos para mudar o
caráter do Brasil para melhor. Tinha tudo. Tinha uma história de defesa da
liberdade e dos direitos humanos, tinha credibilidade e a legitimidade do voto,
tinha nas mãos a esperança de tantos jovens aglutinados pela estrela do PT. E
por tantas bandeiras no ar. A ética. A educação e a saúde de qualidade ao
alcance de todos. As creches, o transporte de massa. Mas Lula achou que o Bolsa
Família seria suficiente.
Os
jovens que protestam agora, em paz ou com raiva, mal chegavam aos 10 anos de
idade quando a eleição de Lula emocionou o Brasil. A geração YouTube deveria
rever a bela cerimônia em que FHC passou o poder a Lula. Se, na última década,
a oposição fracassou com a juventude, imagine a autocrítica do PT. Um partido
que inchou com siglas infiltradas e perdeu companheiros de raiz. Uns saíram por
racha ideológico, outros por convicção de que nada mudaria na essência, e
outros ainda porque foram processados, cassados e condenados.
Os
jovens brasileiros de 16 a 18 anos, para quem o voto é facultativo, se
afastaram das urnas e, até umas semanas atrás, pareciam alienados. Eles não
acreditam nos partidos. Quem de bom-senso ainda acredita, a não ser os que
ganham o pão – e os dólares – com a política partidária? Por isso a ideia de
candidatura avulsa, endossada pelo presidente do STF, Joaquim Barbosa, ganha
força. Joaquim defendeu um “recall” nacional dos políticos. Já pensou se os
eleitores passam a ter o direito de revogar mandatos e de expulsar políticos de
cargos? Renan continua com aquele sorrisinho pregado no rosto em todas as
fotos. Até quando, Calheiros?
Na
semana passada, Dilma virou a Geni. Tudo que disse e desdisse levou pedra de
aliados e oposicionistas. Uns vândalos. Constituinte, plebiscito, referendo,
pactos, apelos, nada pegou bem, nem com a maquiagem e o penteado que custaram
R$ 3.125.
A
presidente está isolada por seus pares e ímpares. Sua sorte é que, até agora,
não há líderes oposicionistas com discurso consistente para o futuro do país.
Aécio Neves converteu-se a uma pálida sombra do que poderia ser. Marina Silva
virou uma analista em cima do muro, com o aposto de “evangélica”. Eduardo
Campos desistiu do combate às claras e age nos bastidores à espera de uma derrapagem
fatal.
E
Lula... Bem, Lula recebeu alguns jovens em seu instituto. A aliados, diz-se que
acusou Dilma de cometer “barbeiragens” na articulação e na resposta à nação.
Lula é hoje a pedra mais incômoda no sapato alto da presidente.
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