sexta-feira, 19 de julho de 2013


19 de julho de 2013 | N° 17496
PAULO SANT’ANA

A sentença do rapagão

Oque achei de mais interessante entre os manifestantes completamente nus na Câmara de Vereadores é que alguns deles, pelados da cabeça aos pés, usavam, no entanto, máscaras antigás de pimenta. Figuras bizarras.

Lancei-me a tantas vanguardas que sinto leve receio de que elas possam um dia se tornar monótonas.

A mais ecoante das minhas vanguardas foi ter sido solitário e intrépido ao me lançar contra a Copa do Mundo no Brasil.

Só fui reconhecido quando as manifestações das ruas declararam que eram contra a Copa do Mundo no Brasil. Então todos se lembraram daquele cronista provinciano que verberou a Copa do Mundo com doentes abandonados nas filas e rejeitados nas emergências.

Há 44 anos, lancei-me na vanguarda de cercar os parques, uma mentalidade tacanha reage e intimida os governantes municipais, que continuam as gastar os tubos na tentativa de conservar os parques, sem sucesso, os vândalos à noite depredam completamente as plantas e os equipamentos.

Mas ainda não considero a minha luta vã.

Mas a mais sublime das minhas vanguardas foi dirigida para denunciar de forma permanente as duas filas do SUS, a das consultas e a das cirurgias.

Basta acabar com essas duas filas para solucionar o problema da Saúde no Brasil.

As filas são feitas espertamente pelos dirigentes do SUS para não atender ninguém, matam os doentes no cansaço da espera de anos nas filas; se não matam no cansaço, os doentes morrem antes por causa de suas doenças não tratadas.

Outra vanguarda minha: ataque veemente desta coluna contra pitbulls e rottweilers, que estraçalharam inúmeras crianças, idosos e donos dos próprios cães através dos tempos.

A cruzada desta coluna teve absoluto sucesso, diminuíram os ataques dessas feras às suas vítimas, por força da alaúza que esta coluna fez contra os donos desses cachorros maus-caracteres.

E assim vou eu, todas as manhãs, os gaúchos e gaúchas, antes ou depois de tomarem banho, abrem a Zero Hora por esta coluna.

Já se tornou um ato institucional no Rio Grande ler esta coluna, as pessoas adquiriram este hábito através dos anos.

E vou contar um fato insólito acontecido comigo nesta semana. Acontece que milhares de pessoas, através dos anos, me disseram sempre a mesma coisa: “O senhor é responsável por eu ter-me tornado gremista”. Isso eu cansei de ouvir nas ruas.

Mas não é que me aconteceu espantosamente o contrário nesta semana: um rapagão me apanhou numa esquina da Rua Miguel Tostes e me disse: “O senhor é o responsável por eu ter-me tornado colorado”.


Até agora permaneço nocauteado, tentando interpretar a sentença do rapagão.

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