sábado, 13 de julho de 2013


13 de julho de 2013 | N° 17490
CLÁUDIA LAITANO

Super-heróis

Será um pássaro? Será um avião? Não, é mais um filme de super-herói. Nos últimos 20 anos, Holywood superpovoou os céus do planeta com eles. Nos últimos cinco, eles se acotovelaram no cinema: sai Homem de Ferro, entra Capitão América, sai Homem- Aranha, entra Lanterna Verde. (Quando não apareciam em bando, todos reunidos, como no megablockbuster Os Vingadores.) Agora é a vez do Super-Homem, que chega ao século 21 na mais messiânica de suas encarnações, como uma espécie de Jesus Cristo Superstar de malha azul e capa vermelha.

Sim, eles às vezes são atormentados por dramas do passado ou pela massacrante rotina de a qualquer momento ter que interromper tudo que estão fazendo para salvar a humanidade. Mas quando a questão é Bem x Mal, não há espaço para ambiguidades ou moral complexa na mente unívoca de um legítimo super-herói: mocinhos defendem a vida como ela sempre foi, vilões são contra tudo isso que está aí.

Na galáxia dos humanos sem superpoderes, distinguir vilões e heróis tem se tornado cada vez mais complicado. O personagem mais emblemático dessa crise de representatividade, ou de unanimidade, com relação a feitos extraordinários é Edward Snowden.

Algumas semanas atrás, a revista americana New Yorker publicou lado a lado dois textos que refletem o racha da sociedade americana com relação ao caso: “Edward Snowden é um herói”, defende John Cassidy, “Edward Snowden não é um herói”, contrapõe Jeffrey Toobin (ambos os textos são facilmente googleáveis).

Para o “time Snowden”, o ex-agente da CIA que vazou informações da Agência de Segurança Nacional fez um enorme serviço ao país e ao resto do mundo, mediante o sacrifício da própria liberdade, revelando a bisbilhotice generalizada do governo americano. Para quem prefere ver Snowden apodrecer na cela de um presídio com 3G ruim, ele não passa de um traíra narcisista que colocou o próprio país em uma enrascada.

Também aqui no Brasil, no ambiente das manifestações, as fronteiras entre bem e mal, heróis e vilões, esquerda e direita, tornaram-se nebulosas. Para quem foi surpreendido pelo movimento enquanto jantava na frente da TV, confundem-se “os baderneiros” e a “minoria baderneira”, a voz das ruas e os os golpistas infiltrados, a polícia que ataca e a polícia que defende, a violência e a reação à violência.

Para manifestantes de primeira hora e simpatizantes, manifestante é manifestante, esteja levantando um cartaz ou queimando uma lixeira – e nem sempre faz sentido separar um do outro. Diante do choque de causas e estratégias, não é fácil se posicionar sempre do mesmo lado: quando você parece entender o que está acontecendo, lá vem a realidade desacomodar suas certezas. Nunca, na história desse país, a certeza foi tão burra – ou no mínimo desinformada.

Enquanto isso, nos céus do planeta, super-heróis fazem o seu trabalho: protegem o mundo da angústia das incertezas e das zonas cinzentas em que bem e mal se confundem e não começam com letras maiúsculas.


Pelo menos até o filme terminar.

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