Filhas de ministros do STF disputam
altos cargos no Judiciário mesmo sem experiência
LEANDRO
COLON - DIÓGENES CAMPANHA DE SÃO PAULO
Para
o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), a advogada Marianna Fux, 32, é
"respeitada" e "brilhante".
Na
avaliação de Ophir Cavalcante, ex-presidente nacional da OAB (Ordem dos
Advogados do Brasil), o currículo da colega Leticia Mello, 37,
"impressiona".
A
mesma opinião tem o experiente advogado José Roberto Batocchio: "É uma
advogada com intensa militância, integra um grande escritório, com ampla
atuação no Rio".
Meses
atrás, o mais novo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Luís Roberto
Barroso, exaltou as qualidades de Leticia numa carta enviada a desembargadores
do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, com jurisdição no Rio e no Espírito
Santo. Em troca, ela prestigiou a posse dele no STF.
As
duas advogadas são filhas de ministros do Supremo. Com poucos anos de
advocacia, estão em campanha para virar desembargadoras, juízas da segunda
instância. Filha do ministro Luiz Fux, Marianna lidera as apostas para
substituir o desembargador Adilson Macabu, que se aposenta no Tribunal de
Justiça do Rio nesta semana.
Se
for bem sucedida, ela terá um salário de R$ 25,3 mil e regalias como carro
oficial e gabinete com assessores.
Filha
do ministro Marco Aurélio Mello, Letícia pode conseguir coisa parecida. Ela foi
a mais votada numa lista submetida à presidente Dilma Rousseff para o
preenchimento de uma vaga no TRF do Rio.
Leticia
é mais experiente do que Marianna. Formou-se em 1997 e trabalha num escritório
de prestígio. É considerada no meio jurídico uma advogada promissora, mas que
dificilmente chegaria tão cedo a uma lista tríplice se o pai não estivesse no STF.
Em
entrevista à Folha, Marco Aurélio saiu em defesa da filha: "Se ser novo
apresenta algum defeito, o tempo corrige". Ele procurou desembargadores
para tratar da indicação da filha, mas nega ter pedido qualquer coisa.
"Jamais pedi voto, só telefonei depois que ela os visitou para agradecer a
atenção a ela".
No
TJ do Rio, há registro de apenas cinco processos em que Leticia atuou. No TRF,
onde ela quer ser desembargadora, não há menção. Leticia formou-se no Centro
Universitário de Brasília e não tem cursos de pós-graduação.
"Há
muitos que têm diversos canudos debaixo do braço e deixam a desejar", diz
Marco Aurélio. "É pecado [a indicação]? É justo que nossos filhos tenham
que optar por uma vida de monge?"
Leticia
e Marianna disputam vagas do chamado quinto constitucional, reservadas a juízes
indicados pela OAB.
O
ministro Fux foi desembargador do TJ do Rio no início da carreira e conhece
quem pode ajudar sua filha. A votação no tribunal deverá ser aberta. Um
integrante do TJ diz que isso pode criar constrangimento, se algum ex-colega de
Fux quiser se opor à escolha da sua filha.
Marianna
formou-se há dez anos pela Universidade Cândido Mendes, no Rio, e seu currículo
exibe uma pós-graduação em Teoria das Obrigações e Prática Contratual pela
Fundação Getúlio Vargas.
A
FGV informou à Folha que não se trata de pós-graduação, mas de um curso de
extensão universitária de quatro meses. Marianna atuou em apenas seis processos
no TJ do Rio: um sobre extravio de bagagem, os demais sobre espólio e dano
moral.
Em
abril deste ano, o advogado Sérgio Bermudes, que é amigo de Fux e emprega
Marianna, organizou uma festa para comemorar o aniversário do ministro. Os
desembargadores do TJ foram convidados, mas Fux cancelou o evento após sofrer
críticas.
O
presidente da OAB do Rio, Felipe Santa Cruz, diz que ainda não foi aberta a
lista para a qual Marianna poderá ser indicada. "Não posso me manifestar
sobre algo que não existe ainda", afirmou, sem negar a movimentação a
favor da advogada.
Leticia
Mello tem dois adversários mais experientes na lista submetida a Dilma: os
advogados Luiz Henrique Alochio, 43, e Rosane Thomé, 52.
Eles
preferem evitar a polêmica. "Espero que seja escolhido o melhor avaliado
do ponto de vista da meritocracia", diz Alochio. "Não tenho grandes
expectativas. A nomeação é tão sem critério, aleatória", afirma Rosane,
que tem 30 anos de advocacia.
Procurada,
Leticia disse que não se manifestaria sobre o assunto. Marianna e seu pai não
responderam aos pedidos de entrevista da Folha.
Editoria
de Arte/Folhapress
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