11
de julho de 2013 | N° 17488
L.F.
VERISSIMO
O Oscar da Flip
Há dias
reclamei aqui da pouca atenção dada ao futebol do Oscar, em contraste com a
exaltação de outros jogadores da Seleção. Os elogios a Neymar etc. não eram
descabidos, mas a importância de Oscar não foi reconhecida como, na minha opinião,
merecia.
Entre
parênteses: no texto sobre o Oscar, usei, como exemplo de jogador altruísta que
joga mais para o time do que para a torcida, o Servilio, acrescentando que não
me lembrava qual era seu time, na sua melhor fase. Claro que choveu ajuda para
meu cérebro combalido. Servilio foi daquele Palmeiras chamado de “Academia” de
tão bom que era, e formava com Tupanzinho uma dupla que rivalizava com a de Pelé
e Coutinho no Santos. Fecha parênteses.
Coisa
parecida com o reconhecimento insuficiente do Oscar aconteceu na Flip deste ano.
Sem dúvida, a figura mais importante da festa era o Roberto Calasso, mas nem na
promoção prévia dos convidados ou no noticiário do evento se deu o devido
destaque à sua presença.
Ele é
um daqueles italianos da linha do Umberto Eco (mas bem melhor do que o protótipo),
comentaristas culturais que combinam erudição cornucópica com pensamento
original e proporcionam uma leitura fascinante para quem tiver paciência com
alguns trechos obscuros, quando a erudição e a criatividade se tornam um pouco
demais – pelo menos para este cérebro combalido.
O
romancista e ensaísta Italo Calvino e o critico literário Franco Moretti são do
mesmo time. A obra de Calasso (para ficar só nos livros traduzidos para o
português, todos, acho eu, pela Companhia das Letras) inclui “As núpcias de
Camdus e Harmonia”, um estudo da mitologia grega; “Ka” sobre a mitologia hindu;
“K” sobre o Kafka; “As ruínas de Kasch”, um longo ensaio sobre a Europa dos séculos
18 e 19 concentrado na figura do estadista francês Talleyrand, que conseguiu
servir à Revolução Francesa, a Napoleão e à restauração dos Bourbons sem perder
a cabeça ou o prestígio; “Os 49 degraus” e “A Literatura e os deuses”.
É de
Calasso um texto chamado “A loucura que vem das ninfas”, que inclui o melhor
comentário sobre o “Lolita” do Nabokov, já publicado.
Enfim,
foi um dos melhores intelectuais que já pisou nas pedras de Parati sem chamar
muita atenção, embora, como Oscar, merecesse todas. A mesa dele foi mediada
pelo excelente Manuel da Costa Pinto. Este sabia com quem estava falando.
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