25
de julho de 2013 | N° 17502
FÁBIO
PRIKLADNICKI
A importância de um sorriso
Ao
final de uma vida intelectual dedicada a desmontar os conceitos mais complexos
do pensamento ocidental, como natureza, essência e verdade, o filósofo Jacques
Derrida passou a se interessar por assuntos mais, digamos, emotivos. Justiça,
perdão e reconciliação, para citar alguns. Entendo o mestre: chega uma hora em
que queremos acertar as contas com as questões vitais.
Com 32
anos e corpinho de 71, vivo um momento semelhante. Quando a segunda metade da
vida acena no horizonte, você vai ficando sentimental, desejando que a vida
seja longa, e a arte, breve. Woody Allen já dizia que não quer alcançar a
imortalidade por meio de sua obra, e sim por meio da façanha de não morrer.
Quando
eu era jovem (ou mais jovem), queria escrever na linguagem rebuscada de Derrida.
Muitas elipses, repetições e outros recursos retóricos. Hoje, meu modelo de
estilo são as crônicas apócrifas que circulam na internet, às vezes atribuídas
equivocadamente a autores do passado. Acho graça em ver Clarice Lispector
opinando sobre as relações na era das redes sociais. Mas, acima de tudo, sonho
em entender a fórmula do texto popular, aquele que todos compartilham no
Facebook porque se identificam.
Primeiro,
eu achava que o segredo era o lugar-comum. Se você escreve que as pessoas têm
um lado bom e um lado ruim, é claro que muitos vão se identificar – é uma
generalização boba. Depois, passei a admirar a arte de escrever para as massas.
Nunca
me esqueço do conselho que um amigo ouviu do terapeuta: banalize-se. Quero algo
de útil para o leitor, por exemplo: não compre pratos pretos porque as marcas
de dedo aparecem mais. É isso que importa para a sua vida. Você deita no divã quatro
vezes por semana durante 10 anos, mas o que realmente precisa saber é: eu
preciso de uma cama king size para o meu apartamento ou será que uma queen size
é de bom tamanho?
Antes,
debruçava-me sobre temas como a desconstrução da metafísica da presença, a
mudança de paradigma da virada linguística e o uso da ironia em Machado de
Assis. Agora, me interessam os benefícios das amizades verdadeiras, a grandeza
de ouvir a voz do coração e a importância de receber um sorriso em um dia difícil.
No final das contas, uma teoria construída ao longo de uma vida inteira não
ensina, realmente, a viver. Filósofos e escritores também ficam em dúvida se
devem ligar para a garota no dia seguinte. O que Derrida faria?
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