19 de julho de 2013 | N°
17496
EDITORIAIS
AMEAÇA REAL
O quebra-quebra promovido em
bairros nobres da Zona Sul do Rio de Janeiro na noite de quarta-feira,
particularmente nos bairros Leblon e Ipanema, demonstra um elevado grau de
desvirtuamento de manifestações que, até recentemente, vinham merecendo amplo apoio
da sociedade. Ao mesmo tempo, expõe o despreparo dos organismos de segurança
para lidar com atos sem coordenação claramente definida, característicos dos
que se multiplicaram pelo país a partir do último mês.
O descontrole, que contribuiu nos
últimos dias para um recuo de multidões dedicadas a pressionar pacificamente
por soluções para alguns problemas emergenciais do país, atinge proporções
preocupantes, exigindo uma revisão imediata na estratégia oficial de segurança.
Esse é o momento de o poder público discernir quem luta por causas justas, e
fazer a sua parte para atendê-las, e quem se dispõe simplesmente a destruir
patrimônio público e privado, devendo por isso se responsabilizar pelos
prejuízos.
Por razões óbvias, fatos como os
registrados agora no Rio ganharam imediatamente projeção internacional, fazendo
com que os prejuízos não se limitem apenas aos danos físicos e de ordem
material. Ainda assim, o balanço de iniciativas como a que transformou parte da
mais conhecida cidade do país numa verdadeira praça de guerra só pode provocar
indignação na comunidade: pessoas feridas, clientes que são obrigados a sair às
pressas de estabelecimentos comerciais, pessoas que não conseguem entrar em
casa depois do trabalho ou das aulas, vitrinas destruídas e lixeiras arrancadas
e incendiadas, além de lojas completamente saqueadas por ladrões acobertados
por máscaras, infiltrados entre manifestantes.
O recrudescimento da violência
nos protestos ocorre às vésperas da visita oficial do papa Francisco, que chega
ao país na segunda-feira para a Jornada Mundial da Juventude. Coincide também
com o momento em que a escolha do país para a Copa de 2014 é questionada
publicamente pela Fifa, justamente pela dificuldade enfrentada pelo poder
público para manter os protestos dentro dos limites da ordem.
As perdas, por isso, vão muito
além das enfrentadas nas imediações dos conflitos, estendendo-se também à
própria imagem externa do país, reconhecido internacionalmente pela
hospitalidade, pelo elevado grau de civilidade e pelo respeito que os
brasileiros, de maneira geral, costumam dedicar ao próximo.
Quando uma minoria passa a
afrontar as instituições, desrespeitando qualquer limite legal ou do bom senso,
cabe ao poder público assegurar direitos mínimos do conjunto dos cidadãos. A
sociedade está aprendendo a ser mais tolerante com os apelos por um país mais
justo e mais próspero, mas não pode assistir inerte a quem boicota esse
processo.
A sociedade está aprendendo a ser
mais tolerante com os apelos por um país mais justo e mais próspero, mas não
pode assistir inerte a quem boicota esse processo.
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