terça-feira, 16 de julho de 2013


16 de julho de 2013 | N° 17493
LUÍS AUGUSTO FISCHER

Sons negros ao Sul

Dois livros recentes de alto valor cultural, relativos ao mundo da música e da cultura negra cá no Estado, saíram neste ano de 2013. Um resulta do doutorado da Luciana Prass e saiu pela editora Sulina: Maçambiques, Quicumbis e Ensaios de Promessa: Musicalidades Quilombolas do Sul do Brasil.

A autora já tinha feito uma linda pesquisa sobre a bateria da escola de samba Bambas da Orgia, que resultou também em livro, pela editora da UFRGS. Disse “linda” e tento contornar essa imprecisão dizendo que se trata de um sério trabalho de pesquisa no que hoje se chama, na universidade, de etnomusicologia, zona de encontro entre antropologia e estudos de música popular, mais ou menos aquilo que antigamente se chamava de folclore.

Essa combinação requer destreza, como se vê, em duas habilidades. Uma é o manejo das categorias e modos de pensar e ver informados pela antropologia, campo do saber que vive de autocrítica em autocrítica, porque sabe que ao estudar seu objeto (era o índio selvagem originalmente, mas passou a ser qualquer “outro”) joga sobre ele sua rede conceitual, sua ideologia, seus valores, motivo suficiente para o etnólogo viver a duvidar do que vê, do que consegue enxergar.

A outra habilidade é o campo da música feita de modo tradicional, em geral feita sem conhecimento da notação musical erudita e com grande inserção comunitária.
Demorei no parêntese e dele saio logo: o livro da Luciana é uma beleza de ler, tanto pela qualidade e relevância do tema, expresso no título, quanto pela delicadeza com que se aproximou dos protagonistas da história.

E tudo cresce ainda mais porque a autora recobrou um fantástico material documental obtido em 1946 ali na região de Osório, com fotos e gravações que até agora estavam encerradas em arquivos, no Rio. Além de Osório, o trabalho estuda congadas em Rio Pardo e Mostardas, sempre em ambientes quilombolas.

O outro livro também é de etnomusicologia, também feito por um músico e pesquisador da redondeza: o autor é Mateus Berger Kuschick, vulgo Mateus Mapa, e o livro se chama Suingue, Samba-Rock e Balanço: Músicos, Desafios e Cenários (editora Medianiz), com lançamento dia 21 de julho, no Odomodê Afro-Sul.


Seu tema gira em torno de um dos mais intrigantes mistérios da relação entre Porto Alegre e o Rio de Janeiro: seria verdade que o samba-rock de um Jorge Ben devia algo ao suingue do gaúcho Luis Vagner, o guitarreiro? O Mateus vai atrás desse mote para descrever laços entre rock e o samba (da Acadêmicos, em primeiro lugar), sondando o mundo da música negra da capital gaúcha com qualidade, humor e bom texto.

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