26
de julho de 2013 | N° 17503
PAULO
SANT’ANA
Os tipos nos debates
Uma
técnica muito usada por produtores de programas de debates em rádio e televisão
é colocar entre os debatedores uma pessoa burra.
Então
o burro passa a dar opiniões estapafúrdias que suscitam imediatamente opiniões
lúcidas e às vezes até brilhantes dos outros debatedores, com o que ganham os
programas em prestígio e audiência.
Mas,
em meio a isso, ocorre um fato fenomenal: quando o burro é repetido à exaustão
no programa, ele acaba ficando famoso.
Temos
então vários casos de burros famosos, que se consagram pela sua burrice. E,
na maioria das vezes, o burro famoso não sabe que se destaca pela sua burrice. No
caso, o burro pensa que se consagra pela sua inteligência, cultura e
sensibilidade.
Claro,
ele só saberia que se consagra pela sua burrice se não fosse burro. É célebre
aqui na RBS o caso do comentarista Luís Carlos Prates, que trabalhou muitos
anos nas rádios Gaúcha e Guaíba.
Nós
fazíamos um programa, lá pelos anos de 1975 ou 76, na Rádio Gaúcha. Era de
debates, mas todos os dias eram os mesmos debatedores. O programa ia ao ar pela
manhã e foi tirado do ar para que entrasse em seu lugar o programa Atualidade.
Os
debatedores éramos o Glênio Peres, a dona Dercy Furtado, o Luís Carlos Prates,
o coronel Pedro Américo Leal e eu. Salientava-se
no programa o Luís Carlos Prates com suas opiniões esdrúxulas, agressivas e excêntricas.
Quem
tinha bolado o programa era o fundador da RBS, Maurício Sirotsky, que adorava rádio
e seguidamente se envolvia na produção de programas para a emissora.
Era
tão destacada a “loucura” do Prates no programa que Maurício Sirotsky um dia o
chamou a sua sala e disse a ele: “Parabéns, Prates. É sensacional e espetacular
o tipo que tu estás fazendo no programa”.
Ao
que o Prates respondeu ao seu Maurício: “Aceito os parabéns mas afirmo que não é
tipo o que faço no programa, eu sou assim mesmo”.
Não é
o caso do Prates, que era muito preparado e inteligente, até formado em
Psicologia. Mas
há burros que se tornam tipos nos programas. E são tipos que se arrastam por
anos a fio na sintonia.
Quem
foi que disse que a burrice não é inspiradora?
Nenhum comentário:
Postar um comentário