22
de julho de 2013 | N° 17499
ARTIGOS
- Paulo Brossard*
Boato que não foi
boato
Se,
em 2012, as projeções quanto ao PIB começaram em 3,3% da economia nacional,
esta acabou crescendo menos de 1%, 0,9% para ser preciso; como no ano anterior,
no início do ano em curso, as projeções andavam em 3,3%, mas não demoraram em
cair para 2,4%, e a tendência é de repetir o resultado de 2012. Para isso
concorrem vários fatores, em primeiro lugar está a situação que amarga a
indústria; por conta da inflação, por três vezes aumentou-se a taxa de juros,
agora em 8,5%.
E se
é verdade que a senhora presidente, em uma de suas diárias divagações
televisionadas, assoalhou que a inflação está contida e deve chegar ao fim do
ano segundo a meta estabelecida, o fato certo é que o Banco Central
praticamente anunciou o próximo agravamento senão os necessários agravamentos
da taxa de juros, o que importa em dizer que o impacto inflacionário tem
resistido às medidas anti-inflacionárias.
Esses
dados servem para indicar os aspectos escuros da realidade nacional, cujas
provas chegam aos feixes; sua confirmação está até na repentina descoberta de
desnecessidade de 14 dos 39 ministérios. Em verdade, ninguém ignorava essa
gritante anomalia, mas agora até em áreas oficiais houve quem percebesse que o
rei estava nu – e disse o que muitos não queriam ver.
A
consequência desse fato não é irrelevante, pois dele resultou a possibilidade
da exclusão da senhora presidente no primeiro turno da eleição presidencial;
sua reeleição, até então tida como pacífica, hoje não passa de mera
possibilidade, quiçá remota.
Mudando
de assunto ocorre-me registrar declaração do ministro da Fazenda, hábil em
misturar temas para desfazer-se de alguns incômodos; em lugar de ocupar-se da
reforma tributária, reclamada desde muito, esgueirou-se para distritos da
denominada reforma política, misturando-a com plebiscito, e deixando no
esquecimento a primeira das reformas, diretamente relacionada com o ministério
que dirige.
De
repente, com engenho e arte, referindo-se às denominadas desonerações
tributárias, aproveitou para dizer que elas, durante dois anos e meio, foram o
centro da política do governo e para afiançar que “não há mais espaço para
corte de impostos”. Ora, como a carga tributária absorve mais da terça parte do
PIB, disse sem dizer sequer adeus à reforma tributária, enterrou-a em silêncio,
ao mesmo tempo que embalsamou as outras fossem quais fossem seus rótulos.
Encerrando,
é relevante notar a publicação de uma nota singular, que visava apagar um boato
malsinado. Dizia respeito à Bolsa Família, que teria sido extinta, fato que
causara comoção entre milhares de pessoas nela interessadas. A senhora
presidente qualificou a autora do boato de desumana e má, enquanto o ministro
da Justiça asseverou que o plano fora orquestrado.
A
Polícia Federal, encarregada de apurar a autoria da infâmia, decorridos quase
dois meses, concluiu pela ausência de qualquer ilicitude no suposto fato que
provocara a indignação oficial, e foi solenemente publicado que o fato não
ocorrera. E dessa maneira a infâmia deixou de existir, e as autoridades que se
envolveram no caso não cometeram nenhuma precipitação ou leviandade, e até a
direção da centenária e por muitos títulos benemérita instituição CEF foi
mantida, porque nada menos elogiável teria acontecido.
E
desse modo findou um episódio raro, senão inédito, na crônica da administração
pública, do qual tiveram participação conspícua algumas das eminências
governamentais. E o governo lavrou um tento, pois, pela primeira vez, desde que
o Brasil é Brasil, em ato estatal um boato deixou de ser boato infame e até de
ter existido. Autêntico boato falso, falsíssimo como diria o José Dias, que
adorava o superlativo.
*JURISTA,
MINISTRO APOSENTADO DO STF
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