sábado, 13 de julho de 2013


14 de julho de 2013 | N° 17491
CLAUDIA TAJES

Solidariedade não tem time

Não há quem tenha ficado indiferente ao José Luiz, que vivia com sua família sob uma ponte e agora vai ocupar, provisoriamente, uma casa alugada pela Prefeitura de Esteio. É uma história com muitos personagens importantes:

o José, a repórter Kamila e o fotógrafo Tadeu, que divulgaram o caso, os irmãos menores do José, que também vão bem na escola, os professores e sua sensibilidade para reconhecer e apoiar o aluno. E a mãe do José. Sozinha para criar três filhos, a mãe do José conseguiu manter os guris tão abrigados quanto possível, alimentados e estudando.

Abandonou a casa onde morava por excesso de honestidade, já que não podia pagar o IPTU e temia o despejo. Assim como o filho, também a mãe do José deu uma lição e tanto para todos. E fez com que a gente não conseguisse mais parar de pensar neles.

Muitos fizeram mais do que pensar. Doações, um curso de inglês, uma viagem com o colégio. As pessoas se mobilizaram para ajudar a família. Um grupo de médicos colorados vai comprar para o José, que quer ser médico, a casa definitiva. Isso apesar do menino ser gremista. O representante do grupo deixou claro: o José torcer para o Grêmio não importa. Mais uma lição. Os médicos colorados levaram esperança para o José e para todo mundo que acredita que o time é um amor que se tem na vida, não uma razão para desamar quem quer que seja.

Aproveitando, queria falar de duas iniciativas muito mais ligadas à solidariedade que ao futebol. O Internacional mantém o Projeto Interagir, que recebe uma média de 200 crianças e adolescentes de seis a 17 anos e acompanha também as suas famílias. Em turnos opostos ao da escola, o Interagir desenvolve atividades esportivas e oferece ainda inglês, informática, música e oficinas variadas para a sua turminha. Tudo com o auxílio de voluntários que tomam para si a missão de proteger e incluir. Para mais informações, aqui vai o e-mail: interagir@internacional.com.br

Do outro lado, tive a oportunidade de conhecer o Instituto Desejo Azul, que visita crianças gremistas em hospitais e instituições como a Kinder e a AACD. O idealizador do Desejo Azul leva pessoalmente, e em seu próprio carro, os voluntários dispostos a presentear as crianças com um uniforme do Grêmio. Estive com ele no Hospital da Criança Santo Antônio para entregar uma camiseta para o Lucas.

No mesmo quarto, o João, colorado fanático, espiava a cena com cara de poucos amigos. E como me doeu não ter levado uma camisa do Inter para ele. Para quem quiser ser voluntário, as infomações estão aqui: www.desejoazul.org.

A cidade está em obras, grandes prédios sobem a cada quadra e o barulho da construção já não tem hora para começar ou terminar. Que saudade que dá de acordar com um passarinho na janela, e não com uma britadeira. Onde eu moro, as máquinas são ligadas pelas sete da manhã e, às oito da noite, seguem funcionando.


O breve horário de almoço dos operários é, para mim, o momento mais esperado do dia. Tivesse nascido no Brasil de hoje, o romântico poeta Gonçalves Dias jamais poderia escrever: “Minha terra tem palmeiras/Onde canta o sabiá/As aves que aqui gorjeiam/Não gorjeiam como lá”. Ele diria: “Minha terra tem betoneiras/Para o cimento misturar/Os buracos que aqui se abrem/Fazem a cabeça estourar”. Ou melhor, se tivesse nascido no Brasil de hoje, Gonçalves Dias sequer seria romântico. Seria concretista.

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