14
de julho de 2013 | N° 17491
CLAUDIA
TAJES
Solidariedade não tem
time
Não
há quem tenha ficado indiferente ao José Luiz, que vivia com sua família sob
uma ponte e agora vai ocupar, provisoriamente, uma casa alugada pela Prefeitura
de Esteio. É uma história com muitos personagens importantes:
o
José, a repórter Kamila e o fotógrafo Tadeu, que divulgaram o caso, os irmãos
menores do José, que também vão bem na escola, os professores e sua
sensibilidade para reconhecer e apoiar o aluno. E a mãe do José. Sozinha para
criar três filhos, a mãe do José conseguiu manter os guris tão abrigados quanto
possível, alimentados e estudando.
Abandonou
a casa onde morava por excesso de honestidade, já que não podia pagar o IPTU e
temia o despejo. Assim como o filho, também a mãe do José deu uma lição e tanto
para todos. E fez com que a gente não conseguisse mais parar de pensar neles.
Muitos
fizeram mais do que pensar. Doações, um curso de inglês, uma viagem com o
colégio. As pessoas se mobilizaram para ajudar a família. Um grupo de médicos
colorados vai comprar para o José, que quer ser médico, a casa definitiva. Isso
apesar do menino ser gremista. O representante do grupo deixou claro: o José
torcer para o Grêmio não importa. Mais uma lição. Os médicos colorados levaram
esperança para o José e para todo mundo que acredita que o time é um amor que
se tem na vida, não uma razão para desamar quem quer que seja.
Aproveitando,
queria falar de duas iniciativas muito mais ligadas à solidariedade que ao
futebol. O Internacional mantém o Projeto Interagir, que recebe uma média de
200 crianças e adolescentes de seis a 17 anos e acompanha também as suas
famílias. Em turnos opostos ao da escola, o Interagir desenvolve atividades
esportivas e oferece ainda inglês, informática, música e oficinas variadas para
a sua turminha. Tudo com o auxílio de voluntários que tomam para si a missão de
proteger e incluir. Para mais informações, aqui vai o e-mail:
interagir@internacional.com.br
Do
outro lado, tive a oportunidade de conhecer o Instituto Desejo Azul, que visita
crianças gremistas em hospitais e instituições como a Kinder e a AACD. O
idealizador do Desejo Azul leva pessoalmente, e em seu próprio carro, os
voluntários dispostos a presentear as crianças com um uniforme do Grêmio.
Estive com ele no Hospital da Criança Santo Antônio para entregar uma camiseta
para o Lucas.
No
mesmo quarto, o João, colorado fanático, espiava a cena com cara de poucos
amigos. E como me doeu não ter levado uma camisa do Inter para ele. Para quem
quiser ser voluntário, as infomações estão aqui: www.desejoazul.org.
A
cidade está em obras, grandes prédios sobem a cada quadra e o barulho da
construção já não tem hora para começar ou terminar. Que saudade que dá de
acordar com um passarinho na janela, e não com uma britadeira. Onde eu moro, as
máquinas são ligadas pelas sete da manhã e, às oito da noite, seguem
funcionando.
O
breve horário de almoço dos operários é, para mim, o momento mais esperado do
dia. Tivesse nascido no Brasil de hoje, o romântico poeta Gonçalves Dias jamais
poderia escrever: “Minha terra tem palmeiras/Onde canta o sabiá/As aves que
aqui gorjeiam/Não gorjeiam como lá”. Ele diria: “Minha terra tem
betoneiras/Para o cimento misturar/Os buracos que aqui se abrem/Fazem a cabeça
estourar”. Ou melhor, se tivesse nascido no Brasil de hoje, Gonçalves Dias sequer
seria romântico. Seria concretista.
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