sexta-feira, 12 de julho de 2013

Jaime Cimenti

Tirando nata do lixo

Na hora de escolher o tema para a crônica desta semana, fiquei em dúvida entre o incêndio do Mercado Público, os protestos em várias partes do País, as mordomias aeronáuticas e a espionagem na web feita pelos Estados Unidos.

Pensei que era melhor avisar quem não assistiu ao Fantástico de domingo passado que pode e deve acessar, na internet, textos, fotos e músicas da Orquestra de Instrumentos Reciclados de Cateura, favela situada ao lado de um aterro sanitário (ou lixão), na periferia de Assunção, capital do Paraguai.

Música e amor são as coisas mais próximas de Deus, todo mundo sabe, mas a incrível experiência da orquestra, hoje formada por 20 jovens, mostra do que é capaz a infinita e pacífica linguagem musical e nos inspira a esperar por pessoas e mundo melhores.

No meio de muita notícia ruim, vale a pena. Flávio Chávez é o maestro dos músicos que usam instrumentos como guitarra clássica feita de duas latas de goiabada justapostas; um conjunto de percussão montado sobre base de máquina de raio-X e violino feito a partir de uma velha saladeira de alumínio.

A ideia de Fábio e do músico Luiz Szaram surgiu há uns cinco anos, e os jovens, com a música, se afastam do caminho do álcool e de outras drogas e têm oportunidades de crescer. No início, o professor contava apenas com cinco instrumentos. Como retribuição pelo seu trabalho, o maestro diz receber “apenas” o privilégio de mudar vidas. Os jovens já tocaram em alguns países e executam repertório que vai das guarânias e polcas paraguaias a Frank Sinatra, passando por Beethoven, Beatles, Vivaldi, Mozart e Henry Mancini. Música da boa, portanto.

A Orquestra de Câmara é a primeira no mundo em seu estilo e nasceu, literalmente, de detritos, mostrando como é possível receber na vida lixo e retribuir com música de alta qualidade. Eles tiram nata e outras coisas sublimes do lixo e encantam à primeira vista. Merecem o reconhecimento que já alcançaram e muito mais, tanto pelo aspecto musical quanto pela experiência inovadora.

Através de seu talento com instrumentos de material reciclado, os músicos nos dão uma oportunidade única de reciclar nossas ideias sobre o mundo e sobre os seres humanos. Se você não assistiu ao Fantástico, vá lá, acesse a orquesta pela internet e veja como a música, o amor e Deus podem andar juntos. Bom espetáculo!

Jaime Cimenti

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