15
de julho de 2013 | N° 17492
ARTIGOS
- Paulo Brossard*
Em queda
Manchete
de primeira página de grande jornal, semana passada, noticiou que Dilma vê risco
de desmanche da base em ano pré-eleitoral, e seria de surpreender se tal não
sucedesse. Se, desde o começo, a senhora presidente desfrutou de excepcional
aceitação por parte da opinião pública, ainda no primeiro trimestre do ano em
curso a presidente teve o primeiro dissabor, quando pesquisa de opinião pública
revelou a perda de oito pontos em sua popularidade, num universo de cem.
Algumas
semanas se passaram e a cena se repetiu, só que desta vez a redução foi de mais
27 pontos, perda que surpreendeu o próprio Planalto. Ambas as perdas,
perfazendo 35 pontos, ultrapassaram a terça parte em relação a cem; se novas
medições forem feitas não me surpreenderei se prosseguir a perda.
Se há
um ponto em que gregos e troianos estejam de acordo é no reconhecimento quanto à
denominada “desaceleração” da economia nacional. As divergências são limitadas
ao grau maior ou menor de esfriamento ou de retração econômica, no sentido de que
o crescimento será ou não inferior a 2%.
A
propósito, eu me pergunto se a senhora presidente ficou perturbada com os números
divulgados ou se não lhes deu importância, uma vez que as sucessivas
iniciativas que vem tomando desde então não tem contribuído e nem poderiam
contribuir para minorar a queda que, evidentemente, erodiu sua popularidade.
Sobram
os exemplos e me falta espaço para arrolá-los, mas não posso deixar de lembrar
que no seu retorno de São Paulo, onde acompanhada de seu marqueteiro foi conferenciar
com seu antecessor, desembaraçadamente, lançou a ideia de um expediente
rotulado de constituinte exclusiva, mas que, pela feição grotesca, não durou 24
horas, tendo ela própria se encarregado de sepultá-la, sem sequer dedicar-lhe
votos de piedade.
Sobreveio
o plebiscito a que se apegou teimosamente, a despeito das gerais restrições,
desde o primeiro momento opostas por pessoas de alta responsabilidade; nem
mesmo a resposta que lhe deu a Justiça Eleitoral pela presidente do Superior
Tribunal Eleitoral e por mais 27 Tribunais Regionais Eleitorais a demonstrar a
inviabilidade do procedimento teve a virtude de demovê-la, e foi necessário que
a grande maioria dos líderes que constituem sua base de sustentação lhe
ponderasse que a iniciativa estaria irremediavelmente condenada.
Lembro
que no começo do ano a imprensa noticiou fato inédito em manchete de primeira página
“Governo manobra e garante R$ 16 bilhões para cumprir meta”, “Operações contábeis
com recursos do Fundo Soberano, BNDES e Caixa garantem superávit, mas afetam
credibilidade da política fiscal”. Não passaram muitos sóis e a credibilidade
da política fiscal tão débil ficou que nem mais nem menos que o gestor da pasta
das finanças proclamou a necessidade de se promover o reforço na credibilidade
exatamente da política fiscal.
Entre
tantos episódios capitaneados pela chefe do governo, por derradeiro, não posso
deixar de lado um dos últimos que parece ter espantado crédulos e incrédulos. Após
ter a ideia de promover a importação em massa de médicos de duvidosa formação
científica e que teriam de aprender a expressar-se em língua portuguesa,
mediante um veto parcial, vem de inaugurar a rebelião na respeitável comunidade
médica de maneira inacreditável. Parece-me que estes gestos derradeiros tanto
se distanciam dos que se pode esperar de governos criteriosos que me abstenho
de tentar qualificá-los. Fiquei perplexo, para não dizer estarrecido.
*JURISTA,
MINISTRO APOSENTADO DO STF
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