terça-feira, 23 de julho de 2013


23 de julho de 2013 | N° 17500
CLÁUDIO MORENO

Alguém quer nos comandar

Ninguém sabe exatamente o que é melhor para a humanidade; ninguém detém o segredo da política. Se existisse alguém, como lembra muito bem Castoriadis, que detivesse esse conhecimento, o que estaríamos esperando para entregar nosso destino em suas mãos?

Em nome do bem maior, deveríamos imediatamente nomeá-lo nosso salvador, com poderes irrestritos: “Tu deves nos governar, já que sabes o que ninguém mais sabe!”. Pronto! O nome disso é “ditadura”, é verdade, mas a causa é nobre: teríamos garantido um futuro de justiça e igualdade para todos e nos veríamos livres desses políticos corruptos e inúteis...

Se existisse – mas não existe... Os gregos, que já sabiam disso há dois mil e quinhentos anos, inventaram para nós a democracia. Como uma lição para o mundo, naquela luminosa sociedade de Atenas, as leis começavam sempre por uma fórmula que dizia algo como “O Conselho e os atenienses decidiram que...”.

Fossem elas leis geniais, ridículas, acertadas, estúpidas, sensatas, insanas, ingênuas, e tudo mais que puder produzir o inesgotável ser humano, era uma decisão de todos – assim como é de todos a escolha dos que vão representá-los, sejam santos ou verdadeiros filhos do capeta. Esta é a essência de um regime democrático, com todos os defeitos que possa ter.

Pois não é que o Brasil de hoje ficou subitamente coalhado de indivíduos que se autointitulam representantes da vontade popular? Desconhecidos, sem qualificação, sem ter disputado e obtido um único voto, saíram da toca dispostos a corrigir o mundo.

Sob a alegação de nos proteger dos malvados e de nós mesmos (sim, porque a cegueira nos impede de enxergar nossos próprios erros, que eles vão gentilmente apontar), juram agir em nome de princípios superiores, que eles conhecem melhor do que o povo, esse caboclo simplório, dominado pelas redes de TV.

Eles só querem o nosso bem, e prometem tornar melhor nosso país, ou nossa cidade, ou nosso condomínio (cujos problemas, é claro, eles entendem melhor do que nós todos). Isso lhes confere uma posição moral superior à de todo o mundo e permite que eles desprezem o que dizem as leis – afinal, eles sabem, e o povo não, que elas são injustas e votadas por interesses espúrios...

Agora esses fascistas – não há palavra que melhor os defina – andam tão à vontade que se sentem cheios de razão em invadir e degradar as câmaras e assembleias! Os gregos sabiam muito bem que a democracia não pode hesitar na hora de combater aqueles que querem destruí-la; nós, ao que parece, esquecemos a lição.


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